terça-feira, 4 de setembro de 2007

PEQUENA FÁBULA

O Pequeno Príncipe vai à Universidade.

Prólogo.

Narrador:
“Quando o vento ao folhear gentilmente o manual de gramática espalhou pelo ar um conjunto de pontuações, mal sabia ele que o que o sapo engolira, depois de esticar a sua enorme língua, era uma vírgula e não um içá...”

“Não que o sapo tivesse desaprovado a refeição, muito pelo contrário, tratou logo de pedir ao vento que espalhasse letras que, depois de saboreadas, formaram sílabas dentro do estômago do anfíbio...”

“Não demorou muito para que Lobato, esse era o nome do sapo letrado, saísse por aí construindo frases para o assombro daqueles que ainda insistiam em engolir os bichinhos de asas. Mas as coisas pareciam mudar rapidamente e depois de uma palestra, em que todas as regras gramaticais foram exemplarmente empregadas pelo orador, Lobato convenceu seus colegas a trocar de dieta...”

“Com a retórica na ponta das línguas, os sapos viraram professores e juntos inauguraram a universidade. Mestre Lobato desfilava sua sintaxe invejável em meio aos girinos pupilos quando, em um momento de descuido, espirrou a palavra “foguete” depois que um içá, que agora não temia mais virar repasto, lhe fez cócegas ao voar bem embaixo das suas narinas...”

“A situação não mereceria maiores comentários não fosse um girino galhofeiro que resolvera aprontar para com o mestre ao combinar o seu ainda precário vocabulário de forma a produzir a palavra “fósforo”...”

“Mestre Lobato, o sapo letrado, entrou em ignição e decolou pelo universo afora deixando para trás um rastro de fumaça combinado com um grito coletivo de “viva” por parte dos girinos pupilos. Foi aterrizar em um pequeno planeta de pequenas proporções composto apenas por três pequenos vulcões, uma pequena flor, um pequeno bode e habitado por um Pequeno Príncipe...”



*** O PEQUENO PRÍNCIPE VAI À UNIVERSIDADE ***


Cena I – Quando Mestre Lobato aterriza no planeta do Pequeno Príncipe.

Sapo Lobato:
O Mestre Lobato vem para demonstrar que é assim que deve ser: “Que o primeiro é assim, o segundo assim e, por isso, o terceiro e o quarto são assado. E não fossem o primeiro e o segundo, o terceiro e o quarto não seriam jamais”.

Pequeno Príncipe:
Bom dia Mestre Lobato. Sou o Pequeno Príncipe. Seja bem vindo ao meu pequeno planeta. Esses são os meus três pequenos vulcões, o meu pequeno bode e a minha pequena flor.

Sapo Lobato:
O que fazes com tantas pequenas coisas?

Pequeno Príncipe:
O bode eu alimento para que ele me ajude com as raízes de baobás, depois lhe afago o cocuruto como recompensa. A flor me serve de paisagem e com os vulcões eu cuido para que não entrem em erupção.

Sapo Lobato:
Bem se vê que o Pequeno Príncipe pensa deveras pequeno. Vivesse eu nesse pequeno planeta faria do bode um cantor lírico. Gravaria CDs com o seu balido para vender em praça pública. Usaria o calor dos vulcões para construir uma fábrica de marmitas. Um disque quentinhas renderia um ótimo lucro. E com a flor produziria fragrâncias para quem quisesse perfumar o cangote, a um custo a combinar, claro.

Pequeno Príncipe:
Que sapo mais criativo. Nunca me passou pela cabeça fazer tudo isso. Mas eu moro sozinho nesse pequeno planeta e embora ele seja pequeno já tenho trabalho suficiente para me ocupar durante todo o dia. Tenho que alimentar o bode, podar a flor e revolver os vulcões. É cansativo mas quando chega de noite fico muito feliz por saber que tudo está organizado.

Sapo Lobato:
Inutilidades! Já pensou em ganhar dinheiro, caro Pequenino Príncipe?

Pequeno Príncipe:
Dinheiro? O que é isso?

Sapo Lobato:
Dinheiro é o prêmio-mor em recompensa ao suor dos merecedores, o que os faz ricos.

Pequeno Príncipe:
Ah sim! Sou um Príncipe muito rico. Toda tardinha, depois de muito trabalho, sento ao chão e observo o pôr-do-sol. É o maior prêmio que alguém pode receber, só não sabia que recebia o nome de dinheiro.



Sapo Lobato:
Somente os tolos para acreditar que sentados encherão os bolsos. Você não tem sonhos rapazinho?

Pequeno Príncipe:
Deixe me ver, acho que tenho um.

Sapo Lobato:
Uma banheira de hidro-massagem acoplada com dvd high definition super ultra xdv de tela plana slim power double deck, é esse seu sonho, não?

Pequeno Príncipe:
Não...

Sapo Lobato:
Um cargo de gerente chefe das produtoras Vila Maluca Incorporation Plaza com salários condizentes com um terço da receita bruta da venda dos sacos de risadas subtraídos da alíquota do Igcf 932 1b? É esse seu sonho, não?

Pequeno Príncipe:
Não...

Sapo Lobato:
Uma câmera hdtv seca sem lentes mas temperada com um switcher mega blaster hiper 3d? Acertei?

Pequeno Príncipe:
Na verdade, senhor Mestre Lobato...

Sapo Lobato:
Você tem sorte de me receber em seu pequeno planeta, pequenino Príncipe. Sou o representante magnânimo de uma instituição pseudo-filantrópica do 5º regimento dodecafônico intitulada Universidade. Lá você será instruído a como entrar no mercado de trabalho e a ganhar muito dinheiro. Basta seguir com régia disciplina os ditames dos professores e terá uma carreira de enorme sucesso. Poderá comprar o que quiser, banheiras, câmeras, cargos...

Pequeno Príncipe:
Muito obrigado Senhor Mestre Lobato, mas estou feliz com as coisas que tenho aqui, acho que não preciso de mais nada, quer dizer...

Sapo Lobato:
Quer dizer... hã? Hã? Hã? O que você deseja? Desembucha para o Mestre Lobato.

Pequeno Príncipe:
Uma corda e uma estaca para amarrar o bode.


Sapo Lobato:
Uma mísera cordinha e uma estaca para amarrar o bode???

Pequeno Príncipe:
As vezes ele teima em querer comer as pétalas da minha flor e isso eu não posso...

Sapo Lobato:
Ah! Está bem! Como pensa pequeno esse Pequeno! Poderá ter sua cordinha e sua estaca.

Pequeno Príncipe:
É mesmo?

Sapo Lobato:
Basta assinar aqui. Não precisa se preocupar, o vestibular é apenas um acidente geográfico fácil de ultrapassar, o que conta mesmo é quanto você pode desembolsar. Você tem dinheiro para gastar, não tem?

Pequeno Príncipe:
Dinheiro? Eu...

Sapo Lobato:
Ah, está bem, esqueça isso por enquanto. O senhor é bem aparamentado, essas roupas devem lhe render a primeira mensalidade, mais esse pequeno colar que imagino ser de ouro maciço, servirá de entrada para o segundo mês. Enquanto isso o senhor já estará apto para correr atrás dos nossos serviços de apoio ao estudante que oferece vagas de estágio em empresas de motoboys, muito conceituadas no mercado. Se for bonzinho poderá filar um emprego vitalício como atendente de buchas telefônicas. Não é preciso lembrá-lo de que toda féria conquistada deverá ser revertida para a sua formação como futuro profissional qualificado e isso, diz respeito a nós, fique sossegado.

Pequeno Príncipe:
Eu estou tonto, tudo isso me parece muito complicado.

Sapo Lobato:
Você vai se acostumar, não se preocupe. A complicação faz parte do negócio, quem pensa simples vende mais barato e não é isso que queremos como exemplo para os nossos girinos pupilos.

Pequeno Príncipe:
Girinos pupilos?

Sapo Lobato:
O senhor será um deles, todos que entram na universidade devem virar girinos pupilos, é a forma mais rápida e eficiente de se tornarem sapos como eu e, portanto, alcançar o estrelato. Não se preocupe, é questão de tempo para se acostumar a esticar sua língua para alimentar-se. Temos um pão de queijo borrachudo na lanchonete do terceiro andar que é de fácil alcance para os principiantes.

Pequeno Príncipe:
Nunca comi pão de queijo.

Sapo Lobato:
Agora vai comer. Sua primeira aula será com a professora-sapa Magaqui, depois será a vez de encontrar o professor-sapo De Poula e, por fim, terminará o período com a professora-sapa Salmento. Três dos mais respeitáveis mestres que a universidade já pôde oferecer aos seus pupilos. Você é um pequeno de sorte, ganhou uma vaga na universidade, imagine quantos outros não gostariam de estar no seu lugar mas, infelizmente, não possuem um planeta como o seu para dar em troca da admissão.

Pequeno Príncipe:
Troca?

Sapo Lobato:
Eu mesmo tomarei conta do seu planeta enquanto estiver fora se dedicando ao academicismo. Não se preocupe, cuidarei para que este pequeno solo cinza se transforme em um verdadeiro jardim de prosperidade.

Pequeno Príncipe:
O bode come duas vezes ao dia e não se esqueça de podar a flor ao menos uma vez por mês. Aqui estão as pás para revolver os vulcões. Promete que vai cuidar bem do meu planeta?

Sapo Lobato:
Não se apresse em voltar, aproveite bem a oportunidade que tem nas mãos. É o seu futuro como empreendedor que está em jogo. Absorva tudo o que há de bom e deixará de ser Pequeno para tornar-se Grande. Quero o receber de volta não mais como um Pequeno Príncipe mas sim como um Rei Gigante. Lembre-se de que a universidade é o canal para a realização dos seus sonhos. Dedique-se com afinco aos estudos e terá a recompensa merecida. Obedeça seus mestres e não crie confusões. Seja um bom girino pupilo, não rabisque nas carteiras, não faça caricaturas na lousa... e não se esqueça que 2 + 2 sempre resultará em 4! O que é, é o que é! E ai de quem diga que não é!

Narrador:
“Repetindo a galhofada do girino zombeteiro, a palavra “fósforo” foi expelida da boca do Mestre Lobato mas, dessa vez, acendeu o foguete para servir de carona ao Pequeno Príncipe que lá de cima já podia sentir o quanto o seu pequeno planeta faria enorme falta...”

“O aperto no coração foi seguido por uma sensação de aventura e descoberta. Mas o Pequeno Príncipe até então nunca havia saído de seu pequeno planeta com um destino marcado. Gostava de viajar sem ter um paradeiro certo para aproveitar melhor o sabor da novidade. As coisas mais gostosas de serem conhecidas são aquelas que nem ao menos sabemos que existem, pensava ele ao passar por um cometa apressado...”

“Olhou atentamente para o céu ao seu redor e percebeu ao longe uma pequena constelação composta por quatro estrelas bem luminosas. Duas duplas, quatro estrelas. 2 + 2 sempre resultará em 4. Engraçado observar as coisas a partir de fórmulas, nunca havia parado para pensar dessa forma. Mas funcionava e talvez fosse uma maneira mais prática de entender o movimento do universo. Lembrou-se da sua pequena flor. 6 pétalas, 3 de cada lado. 3 + 3 sempre resultará em 6, concluiu sorrindo mas sem deixar de reprimir uma lágrima de saudade que escorria tímida pelo seu rosto...”

“Enquanto isso, em algum lugar lá embaixo, a Sapa Magaqui lixava as unhas ao mesmo tempo em que ajeitava os fios rebeldes do cabelo para dentro de sua boina roxa. Levou um tremendo susto que a fez descabelar toda quando o foguete do Pequeno Príncipe aterrizou bem a sua frente. Ainda sob o impacto da visita inesperada, tirou um batom da sua bolsa de camurça, junto com um espelhinho, e tratou de se recompor...”


Cena II – Quando Pequeno o Príncipe encontra a Sapa Magaqui.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professora Magaqui. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula da senhora.

Sapa Magaqui:
Como eu estou, meu pequeno?

Pequeno Príncipe:
É... bonita, eu acho.

Sapa Magaqui:
Linda? Ora que elogio mais lisonjeiro. Muito obrigada, o senhor também não é de se jogar fora. Na bem da verdade o senhor tem potencial, muito potencial. Uma hidratação nesse cabelo ressecado, aliado a algumas outras coisinhas mais o transformariam num verdadeiro príncipe.

Pequeno Príncipe:
Mas príncipe eu já sou.




Sapa Magaqui:
Ora que arrogantezinho impertinente, tão pequeno e já querendo ser o que não é. Mas eu gosto de ambição e isso o senhor exala pelos quatro cantos, dá para sentir.

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com a senhora. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapa Magaqui:
Dinheiro? Claro... vocês girinos pupilos só pensam nisso. Parece uma espécie de idéia fixa tal qual um imã que não larga do seu irmão ferro! O que resta a nós, pobres sapos professores, a não ser satisfazê-los? Gosta da minha boina, rapazinho?

Pequeno Príncipe:
É roxa.

Sapa Magaqui:
E é assim que o senhor vai ficar: roxo de rico.

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapa Magaqui:
E fala por metáforas. Engraçadinho esse Pequeno. Sim! Vou te ensinar a laçar o seu chefe e quando menos esperar o cabrito vai estar atado à sua estaca. A lição de como evitar ser laçado depois que você tomar o lugar do carneiro, isso o senhor só poderá ter acesso na pós graduação.

Pequeno Príncipe:
Estou ficando sem ar.

Sapa Magaqui:
O senhor é bem apanhado, não lhe faltará também a ousadia para o mercado. E quando a gente confia em si mesmo os outros também confiarão. Aprenda principalmente a conduzir o patrão. Seus eternos “droga” e “ora pois”, tão multifacetados, são facilmente curáveis com um jantar a dois. É só mostrar-se um pouco honrado para tê-lo inteiramente ao seu lado. No início, um título é necessário para que ele acredite que a sua arte supera muitas outras artes. Logo de chegada lance paparicos aos ventos que outro durante anos só conseguiu ensaiar. Saiba bajular o ego com jeito e, com o olhar esperto e ardente, cumprimente-o com a direita ao mesmo tempo em que uma piscadela é executada com a pálpebra esquerda. Agora, se ele for ela, aí a técnica muda um pouco.

Pequeno Príncipe:
Não entendo muito do que a senhora fala.


Sapa Magaqui:
Assim que eu gosto, modéstia. Já avançamos muito por hoje. Para quem se auto intitulava o Príncipe do universo, o senhor já teve ganhos consideráveis para uma primeira aula. Trate de zelar pela ordem com afinco. São cinco horas diárias, esteja dentro ao tocar o sino. É claro que em casa o senhor se preparou, estudou os parágrafos, para depois ver melhor que o professor não diz nada além do que está no livro. Mas é assim que funciona, não somos pais nem mães de ninguém para ultrapassar aquilo que a burocracia exige; e se o senhor quer mesmo virar um sapo bem sucedido basta repetir junto comigo o seguinte refrão: pãn pã rã rãm pãm: pãm pãm. Sua vez.

Pequeno Príncipe:
pãn pã rã rãm pãm: pãm pãm.

Sapa Magaqui:
Ainda um pouco hesitante, mas melhorará com o tempo. Agora se me permite tenho um encontro surpresa no elevador para tratar da minha eleição como coordenadora do curso. Trata-se da técnica intitulada “elevator speech” em que durante o curto período de 1 minuto você deve realizar um streap-tease intelectual para seduzir seu superior. Mais tarde o senhor também aprenderá a perder a vergonha, não se preocupe. São 20 reais, por favor.

Pequeno Príncipe:
O que são 20 reais?

Sapa Magaqui:
O preço da aula. 20 reais.

Pequeno Príncipe:
E quando ela começa?

Sapa Magaqui:
Veja se não é um Pequeno Piadista. Já desconfiava que era um pobretão. Esse seu casaquinho vai servir de pagamento. Acha que ele combina com minha bolsa?

Pequeno Príncipe:
Acho que sim.

Narrador:
“Meio desorientado, meio desanimado, seguiu para a sua segunda aula. No meio do caminho começou a fazer um frio de gelar os ossos e o Pequeno Príncipe desejou ao menos ter com ele o casaquinho que havia empregado como pagamento. Pensou no seu pequeno planeta, em como ele era quente e aconchegante. Talvez nunca devesse ter saído de lá...”

“Todo esforço tem a sua recompensa, pensou consigo mesmo. E se tudo isso resultar na estaca e na cordinha para amarrar o meu bode, terá valido a pena. Olhou para cima e viu o céu todo estrelado. Lá estava a pequena constelação de quatro estrelas luminosas. 2 + 2 sempre resultará em 4. De repente percebeu que tudo poderia ser reduzido através dos números e das fórmulas. Tudo era exato, inquestionável e, por isso mesmo, descobriu que tinha perdido tempo demais observando todas as tardes o pôr-do-sol no seu planeta. Afinal de contas, pôr-do-sol tinha toda tarde e era sempre igual, sempre mais um número. Até o seu planeta era igual aos outros. Ficou triste sem saber o porquê...”

“Em algum lugar perto dali o Sapo De Poula dormia. Quando o Pequeno Príncipe chegou, o Sapo De Poula deu um pulo mas, de alguma forma, parecia que ainda continuava dormindo...”


Cena III – Quando o Pequeno Príncipe encontra o Sapo De Poula.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professor De Poula. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula do senhor.

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com o senhor. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
O senhor fala outra língua que não seja a língua dos sapos?

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapo De Poula:
(um balido) méééééééé.

Pequeno Príncipe:
Não entendo muito do que o senhor fala.

Sapo de Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Estou ficando sem ar.

Sapo de Poula:
(levanta uma plaqueta onde está escrito: “R$ 20,00”) Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
20 reais?

Sapo de Poula:
(vira a mesma plaqueta onde está nova inscrição: “R$ 20,00, preço da aula”) Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
E quando a aula começa?

(o Sapo De Poula dança um tango e em seguida alcança o cachecol do Pequeno Príncipe. O veste em si mesmo).

Sapo de Poula:
Ruãbãr.

Narrador:
“O pequeno Príncipe caminhou para a sua terceira aula do dia com uma dúvida na cabeça. Se é dinheiro que querem me oferecer como prêmio pelo meu esforço, por que é que até agora fui eu quem tive de pagar por alguma coisa que não sei nem ao menos para que serve? Sentia-se cansado como nunca estivera antes. Mesmo sem arregaçar as mangas para pegar na enxada, sentia suas forças exaurirem tão rapidamente que precisava parar para tomar fôlego de tempos em tempos...”

“A saudade do pequeno planeta apertava o coração do Pequeno Príncipe. Lá tudo era mais simples e não precisava pensar em recompensas futuras porque o pouco que ele tinha já o deixava feliz. Quando levantava os olhos para o céu em busca de lembranças agradáveis encontrava a constelação das quatro estrelas e a fórmula 2 + 2 = 4 o animava um pouco. Se as coisas são como tem que ser então eu estou no caminho certo. Fácil como uma fórmula matemática...”

“Perto dali, a Sapa Salmento pulava amarelinha despreocupada...”


Cena IV – Quando o Pequeno Príncipe encontra a Sapa Salmento.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professora Salmento. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula da senhora.

Sapa Salmento:
Quer ser meu amigo, pequeno pequenino?

Pequeno Príncipe:
Quero sim. O que a senhora está fazendo?

Sapa Salmento:
Estou pulando amarelinha. Gosto muito de pular amarelinha. Sabe, amarelo é a minha cor preferida, é a cor da riqueza. Dizem que verde é a cor do dinheiro e eu até concordo que seja verdade, mas amarelo é a cor da riqueza e quando eu soube que existia uma brincadeira com o nome de amarelinha eu tratei logo de descobrir que brincadeira era essa. E aqui estou eu, brincando de amarelinha. Quer brincar comigo?

Pequeno Príncipe:
Faz tempo que eu não brinco de nada, desde que eu deixei o meu planeta.

Sapa Salmento:
Que triste! Mas ainda bem que você veio para a universidade, aqui é o lugar onde tuuuuudo pode acontecer. Não precisa se preocupar com nada, nós sapos somos treinados para distrair sua cabecinha e fazer com que você esqueça tooooodas as coisas chatas que existem por esse universo feio e cinza. Cinza, caro pequenino, é toda a teoria! E verde a árvore dourada da vida!

Pequeno Príncipe:
E azul é cor que deixa o céu azul mais azul?

Sapa Salmento:
Iiiiiisso! Isso mesmo. Essa era a lição do segundo semestre mas pelo visto você andou estudando antecipadamente, né seu cdf’zinho? Mas não tem problema porque aqui na faculdade nós temos um arco-íris enorme de possibilidades para deixar você mais feliz!

(A Sapa Salmento canta e dança uma música infantil)

Trala, trala, trala la la la,
Tralala, tralala tra la la Rei!

Trele trele trele le le le,
Trelele, trelele, tre le le Rei!

Trili trili trili li li li,
Trilili, trilili, tri li li Rei

Trolo trolo trolo lo lo lo,
Trololo, trololo, tro lo lo Rei!

Trulu trulu trulu lu lu lu,
Trululu, trululu, tru lu lu Rei!

Pequeno Príncipe:
Isso tudo está me deixando tonto.


Sapa Salmento:
Claro que sim! É normal! Quando a gente brinca de rodar a gente fica tonto. E depois de parar, se você fechar os olhos vai ver que tuuuudo fica preto. Sabia que preto é a cor do gato preto?

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com a senhora. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapa Salmento:
Sonhos? Passa anel, passa anel! O que é que você quer do mundo? Conquistar o jardim de cogumelos dos Smurfs ou expulsar o Esqueleto do castelo de Greiscol?

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapa Salmento:
Yuuuuuuuuuuuuuuuuuuupiiii! Barra manteiga na fuça da nega. Senhor capitão caiu no chão! Moça bonita do meu coração. Frai si, tcham tcham tcham, si o lá, tcham tcham tcham, pra sorrir, tcham tcham tcham, frai si. Adoletá lepetite letolá le café com chocolá A-DO-LE-TÁ! Ganhei! Ganhei! Ganhei! 20 Reais, por favor!

Pequeno Príncipe:
20 reais?

Sapa Salmento:
É o preço da brincadeira.

Pequeno Príncipe:
Até para brincar é preciso pagar?

Sapa Salmento:
Não sabe, não sabe, vai ter que aprender! Orelhas de burro hão aparecer. Difícil? Parece fácil? Um belo dia, um belo dia aprenderá! YYYYhhhhhóóóóó.

(A Sapa Salmento arranca o colarzinho de ouro do Pequeno Príncipe)

Narrador:
“Quatro anos foram-se embora tão velozmente quanto o farfalhar do vento que não cessava de alimentar a erudição dos professores sapo. O Pequeno Príncipe tomou o caminho de volta para seu pequeno planeta com um diploma na mão. Estava tão ansioso por rever sua terra que mal pensou em o que fazer com aquele pedaço de papel. Nem na parede poderia emoldurá-lo simplesmente porque parede não havia naquele pequeno planeta...”

“Ao chegar, trocou o sorriso pelo espanto. Encontrou o pequeno bode sobre um pequeno palquinho de madeira ilhado por diversos CDs com a inscrição: “bode’s hits parade”. O animal estava velho, rouco e a alegria parecia ter lhe escapado do rosto. A flor estava com um aspecto não menos doentio, com suas pétalas murchas de tanto serem espremidas para a retirada do perfume. Os três vulcões estavam cobertos por chapas de ferro que acabaram por tapar as pequenas crateras, evitando a saída da fumaça. Como resultado, o planeta todo vertia um negrume malcheiroso vindo do solo. Bem ao sopé de um dos vulcões, Mestre Lobado fincava uma placa de “vende-se”...”

Cena V – Quando o Pequeno Príncipe retorna ao seu planeta.

Sapo Lobato:
O filho pródigo ao lar retorna. Seja bem vindo ao meu pequeno planeta, Pequeno Príncipe.

Pequeno Príncipe:
O planeta não é seu.

Sapo Lobato:
A sua frase faria sentido não fosse o emprego do tempo verbal. Pretendo partir em breve para o ramo audiovisual e esse é o motivo pelo qual coloco à venda este modesto pedaço de terra. Há de concordar comigo de que neste pedaço de fim de mundo não há um mercado consumidor em potencial para o sistema broadcast. Não teria interesse em adquiri-lo?

Pequeno Príncipe:
O dinheiro que o senhor procura não sou eu quem vai lhe dar. Não tenho nada nos bolsos.

Sapo Lobato:
Um verdadeiro homem das pechinchas. Parabéns pela formatura rapaz, vejo que a universidade o ensinou a sobreviver no mundo dos negócios. Não é preciso me agradecer quanto ao progresso que empreendi na sua ex morada, tudo o que fiz foi em prol do desenvolvimento sustentável. Agora, se me permite uma contra proposta, aceito que permaneça nesse local sob a condição de tornar-se meu empregado. Veja que as vantagens são muito maiores para o senhor. Quantos recém formados não dariam a vida para trabalhar comigo, o futuro detentor do império broadcast high definition UVA UVB?

Narrador:
“Sorte do Pequeno Príncipe ter aprendido um pouco da malandragem estudantil com os seus colegas girinos pupilos. Não fosse isso, teria apagado o foguete com que aterrizou em seu planeta e mal teria passado pela sua cabeça despachar Mestre Lobato para bem longe no mesmo transporte...”

“Não demorou muito para que tudo voltasse a ser como antes. O bode voltou a sua felicidade dos velhos tempos, ajudando o Pequeno Príncipe com as raízes de baobás. A flor fora tão bem cuidada que agora ostentava uma cor e um perfume nunca imaginados. Os três vulcões puderam voltar a respirar e o negrume mal cheiroso sumiu como que em um passe de mágica...”

“O bode ficou sem a sua cordinha e a estaca, mas que importância isso tinha agora? A flor estava tão exuberante e perfumada que a ânsia por mastigar suas pétalas foi transformada por momentos de conversas ao pôr-do-sol. Os dois tornaram-se grandes amigos...”

“E por falar em pôr-do-sol, lá está o nosso Pequeno Príncipe sentado a aproveitar esse momento tão bonito do final do dia. E quando a noitinha já vinha, ainda conseguiu vislumbrar a constelação das quatro estrelas luminosas. Esfregou os olhos uma vez mais antes de cair no sono para descobrir que havia mais um pontinho luminoso que nas outras vezes não notara. Uma quinta estrela intrometida. 2 + 2 sempre resultará em 4? Melhor deixar as fórmulas para os matemáticos. Ele dormiu profundamente e foram tantos os sonhos que teve que no dia seguinte não conseguiu se lembrar de nenhum.

Fim!


Roteiro escrito por Francisco Egydio de Carvalho.



“Só Agora Reconheço O Que O Sábio Diz:
“O Mundo Dos Espíritos Não Está Trancado,
Teu Senso Está Fechado, Teu Coração Morto.
Anda! Banha, Discípulo, Animado O Peito Terrestre Na Luz Da Aurora”*

*Goethe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário