terça-feira, 21 de abril de 2009

Por que eu prefiro a inadequação?


"Conhecem a história do menino que pediu ao pai para lhe mostrar uma floresta?

O pai concordou, e, quando chegaram o pai perguntou se o menino avistava a floresta. Admirado, o menino disse:

- Vejo, mas são tantas árvores que não consigo ver a floresta.

Quando se tem tanta árvore alinhada de um lado a outro, já não se vêem as árvores. Vê-se outra coisa que transmite um outro conceito. Penso que se pode ter a mesma impressão quando há muitas pessoas juntas. Também elas perdem a própria individualidade e tornam-se massa e se conservam juntas por causa de seu interesse social. Nessa situação, as pessoas concentram-se unicamente em torno de seus interesses coletivos, tornam-se maravilhosas como protagonistas de um movimento social, mas não possuem nenhuma individualidade. As pessoas podem pensar de forma diferente para si, mas rendem-se aos interesses coletivos, que acabam por destruir a sua individualidade."


Abbas Kiarostami


Será que a ânsia por se aninhar no aconchego do anonimato, na escuridão confortável dos bastidores - já povoado por milhares de outras sombras sem rosto -, não é mais uma necessidade de auto-conservação, de defesa de uma aparente individualidade conquistada pela condescendência alheia, do que uma reivindicação por qualquer interesse coletivo? A massa amorfa dos sem-rosto é a muralha perfeita para a construção de um indivíduo egoísta que procura a sombra para se esquivar do perigo da radiação luminosa. Nesse sentido, aqui temos, ao invés de um representante das causas coletivas, um indivíduo doente em sua independência que só poderá defender, e para isso há forças de sobra, a manutenção da saúde do seu próprio umbigo.




Escrito por Francisco Carvalho. 21 de Abril; às 14:30.




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