segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MANIFESTO


Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que produz consensos, mas aquela que trabalha na contramão do aceitável.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que conforta, mas aquela que se impõe pela arrogância consciente, grito de protesto contra a voz uníssona dos elegantes mastigadores de uma vida temperada por teoremas e fórmulas degustáveis.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que fala esperando por uma resposta, mas aquela que pela força da sua articulação emudece qualquer possibilidade de entendimento.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que constrói caminhos, mas aquela que sem pedir permissão abala as estruturas apreendidas pela tradição da falsa moral, produzindo becos sem saídas.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que alimenta, mas aquela que pela carência de nutrientes esgota a saúde de quem a absorve, transformando a força de um organismo em uma massa precária de órgãos desarticulados.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que ilumina, mas aquela que acende chamas para produzir sombras e reivindicar o retorno a um saber inapreensível, terreno ainda distante das soluções ególatras dos doutores da academia.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que é ouvida em alturas melódicas que apaziguam as tormentas do espírito, mas aquela que fere os tímpanos dos afinados, transformando os timbres celestiais em berros agonizantes de um homem desamparado em um universo de forças aterradoras.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que termina com um ponto final, mas aquela que tem a coragem de permanecer incompleta, companheira de reticências desconhecidas

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Escrito por Francisco Carvalho, terça feira – 15 de setembro de 2009, às 2:00hs da manhã.

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