segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Capivara se impressiona com o impressionista Monet!



Sucumbi à pressão e fui ver os impressionistas no centro de SP. Escolhi minha melhor roupa para impressionar e... tcharãn... impressionei! Olhava pro Monet que olhava pra mim e ambos faziam aquela cara de im-pre-ssio-nan-te! Eu porque admirava os lindos quadros impressionistas do pintor, ele porque ficou impressionado com a minha expressão de filósofo do impressionismo tardio. Já reparou que nessas ocasiões, de grandes exposições cujos autores são artistas renomados, há um afluxo alucinante de Phd’s em vanguardas-emergentes-do-contexto-sócio-geo-político-da-conjuntura-mundial-do-pós-guerra? É quase proibido ser uma anta e ainda assim pedir ingresso num desses eventos, uma capivara sim! – porque as capivaras tem a sorte de carregar aquela expressão ‘un passant’ típica do ruminante que não se impressiona com nada do que vê, embora entenda perfeitamente toda a cronologia impressionista do movimento dos artistas em questão. Nunca desconfiou porque razão legiões de capivaras circulam as margens do Tietê e do Pinheiros? Simples, porque os nossos dois queridos rios formam juntos a maior obra abstracionista e fedorenta – porque toda arte que se quer moderna deve em algum momento exalar um odor nauseabundo, nem que seja um ligeiro budum-poético - que nossa capital da fumaça já produziu. Eu era uma capivara declarada na exposição dos impressionistas. Uma capivara-cult. Uma capivara assídua do espaço Unibanco, que veste boina e chinelo e sabe tudo do neorrealismo italiano, além de ser fã dos filmes do Godard. Mas não me pressione a mudar de assunto! Se eu sou uma capivara assumida, naquele instante eu não era uma capivara da 7ª arte, mas uma capivara das artes plásticas, impressionada com os impressionistas. É por isso que eu não sou afeito a visitas em museus, prefiro preservar minha porção capivara para momentos campestres, em que é possível mastigar a mais fina alfafa interiorana, capivaras urbanas são quase sempre contaminadas pelo ar da erudição-capivarial, aquela sapiência zoomórfica que domina as cátedras acadêmicas dos orientadores de doutorado. Prefiro ir ao teatro. Na platéia do teatro as antas são bem vindas. No teatro eu sou uma anta. As antas no teatro não correm o risco de sofrer qualquer espécie de bullying-intelectual. O melhor público é o que se assume ignorante, tapado, desorientado... ainda que o sujeito seja uma Toupeira-Shakespeariana – um grau além da antice esperada -, o palco é tão potente que dará conta de arrebatá-lo para dentro da história do bardo inglês. Nenhum pós-doc sobrevive a um espetáculo de teatro, o maior dos instruídos vira mais um numa audiência repleta de espectadores transparentes. Mas a despeito de tudo isso, vale a pena ver o Monet e todo o resto dos impressionistas, só tome cuidado para não tropeçar nas montanhas de capim que vez ou outra se formam durante o trajeto das capivaras...

Nenhum comentário:

Postar um comentário