segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A metafísica das calças frouxas...


Saí de casa com a calça frouxa. Talvez o cinto não tenha cumprido o seu papel, ou então eu emagreci pegando carona com o Fenômeno, que acaba de entrar pro Medida Certa. Só sei que no meio de uma elucubração das mais filosóficas, no auge do ‘ser ou não ser eis a questão’, fui obrigado a puxar o jeans para evitar um diálogo público e imprevisto com as minhas vergonhas. Não que as minhas vergonhas sejam vergonhosas, muito pelo contrário, as minhas vergonhas são tratadas a pão-de- ló, cuido delas com todo esmero para ter alguma coisa com que me orgulhar nessa vida, ainda que a gravidade torne grave o prognóstico de um futuro que há de vir mais cedo ou mais tarde. A questão é que quando minha cueca estava prestes a protagonizar seu discurso à la ‘Bonitinho mas Ordinário’ em plena padaria, local onde me encontrava em trânsito matinal rumo à labuta dos justos, eu sofri uma iluminação! Eureca! Eis o que descobri: o homem evoluído veste calças frouxas! O homem evoluído frequenta constantemente o intervalo entre a descoberta do Bóson de Higgs e a inescrupulosa tarefa de erguer suas calçolas para evitar publicar suas vergonhas nos anais – ou bundais – das revistas científicas. Não confie nunca num sujeito de terno e gravata! O sujeito de terno e gravata anda impecavelmente ajustado ao seu cinto de couro, nunca passando pela sua cabeça que existem vergonhas profundas escondidas por detrás de tanto charme executivo. O terno e a gravata é a armadura dos ímpios, a carapaça dos mentirosos, o casulo dos blasfemadores. Quem usa terno e gravata é um desavergonhado, herdeiro dos iluministas pedantes, todos acadêmicos bobinhos que inventaram os suspensórios justamente para desfilar suas enciclopédias de termos inúteis por aí. Não é a toa que a Idade Média foi o período mais frutífero da história do homem, tempos em que os loucos, dementes e poetas amarravam suas ceroulas com cordinhas vacilantes. Até quando o assunto é religião o elástico frouxo escorrega com força. Imagine Cristo indo para a cruz de terno e gravata? Certeza que não subiria aos céus, nem no terceiro dia, quanto menos depois da posse do Apóstolo Russomanno! Arrisco a dizer que Sócrates proferiu o seu ‘só sei que nada sei’ na urgência de apanhar sua túnica grega que insistia em lhe abandonar os seus gambitos filosofais! A filosofia morreu na era da razão, com todos os seus filósofos protegidos pela ladainha de uma retórica pudica que escondia a roupa de baixo dos bigodudos. Marx foi um chato pateta, um desavergonhado que proibiu a especulação capitalista das calças largas. Deu no que deu: uma revolução abstrata. Tivesse afrouxado a bermuda, teria sido um gênio. É isso! Os escolhidos, os gênios, os profetas, os inteligentes, todos eles abrigam em seus armários um conjunto espetacular de calças largas, ansiosas para lembrar que no fundo, ou melhor, na cintura da vida, nada de importante pode concorrer e superar a consciência de nossas vergonhas. Saí da padaria e passei o dia inteiro entre a cueca e a consciência. Quando embarcava numa nova teoria revolucionária, fruto da minha invejável malhação intelectual, lá me caiam as calças para alertar-me de que os fundos da casa podem sempre colocar tudo a perder. É isso! Sou um privilegiado! Descobri o caminho, ou o tamanho errado, da sabedoria. Vou aposentar todos os meus cintos. Vou afrouxar o que resta do meu guarda-roupa! Virei um homem evoluído!

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