quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Do pó viemos, ao pó retornaremos.



O destino de São Paulo está selado, um futuro nebuloso, um futuro poeirento e funesto. No dia 21 de dezembro, data do próximo apocalipse – anote no seu smartphone para não correr o risco de perder a celebração -, a cidade da garoa sumirá por completo debaixo de toneladas e mais toneladas de pó – passe o dedo na sua estante de livros e perceberá os sinais concretos dessa tragédia iminente. Não, caro amigo de infortúnio, não adianta ligar para sua faxineira, ela pouco teria a fazer para nos ajudar. O pó vencerá! Do pó viemos, ao pó retornaremos. O pó na estante é a primeira trombeta do apocalipse segundo São Paulo. Ainda que as forças armadas empunhem o conjunto total de aspiradores de pó à venda nas Casas Bahia, ainda assim, o pó triunfará! Será o fim. Seremos todos sepultados vivos num piscar de olhos, sem nenhum aviso prévio! Nada de hecatombe hollywoodiana com direito a terremoto engolindo o Monumento às Bandeiras, labaredas de fogo queimando as capivaras do rio Tietê ou chuva de meteoro inundando de granito o já afogado Jardim Pantanal... nada disso! O enredo melodramático da nossa triste existência terá uma conclusão frugal, um ‘pronto cabô’ sem clímax nenhum, todos pegos desprevenidos pela força devastadora da poeira assassina. São Paulo entrará para a história como a nova Pompéia e escavações futuras revelarão nossos corpos petrificados nas poses mais prosaicas, indicando que o curso da vida corria normalmente no instante em que a nuvem negra baixava seu manto de morte sobre nós. Não, companheiro de dor, não adianta gastar dinheiro com ventiladores ou circuladores de ar, ainda que fosse possível instalar uma turbina de Boeing na sua sala, ainda assim o pó daria conta de se esgueirar por entre as frestas do seu humilde e asséptico lar! Passe o dedo em cima da televisão e verá! O pó em cima da televisão é a segunda trombeta do apocalipse segundo São Paulo. Mas não se entregue, lacrimejante irmão! Mesmo fossilizado, há que se preservar o respeito! O passado de glória da raça humana tem o dever de, ao menos, servir de molde para notáveis estátuas de pedra a serem expostas nos museus dos séculos seguintes! Que o diga o peladão Davi de Michelangelo, pego desprevenido pelas cinzas do Vesúvio enquanto interpretava uma peça antropofágica do Zé Celso. Portanto, engula o soluço e vá ensaiando qual estátua humana quererá deixar como legado para as gerações vindouras. Eu já decidi a minha! Vou ser desenterrado de joelhos e com uma bíblia na mão, para provar que em vida fui um digno devoto do Senhor e cabo eleitoral do Russomanno. Ah, triste presságio! Tanto tempo trabalhando na escolha das palavras do meu nobre epitáfio e agora terei de me contentar com um prosaico: COF! COF! COF! Foi Ivete Sangalo a primeira a nos alertar sobre o epílogo dos sapiens. O ‘levantou poeira’ da musa do axé baiano era um alarme profético que poucos levaram a sério. Por detrás do gingado da arretada escondia-se uma Nostradamus-do-Acarajé! E não demos qualquer atenção. O pó, sempre o pó a espreitar o nosso destino... e nós menosprezando a sua força de extermínio. Oh pó! Minha consciência afunda-se em remorso. Passe a mão pela consciência e verá. O pó de cima da consciência é a terceira e última trombeta do apocalipse segundo São Paulo.         

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