domingo, 9 de setembro de 2012

O Focinho empreendedor...



Entre os animais houve um rateio de profissões e coube a pomba o papel de lixeiro do mundo. Pobre coitada da pombinha que tem de sobrevoar as metrópoles malcheirosas do mundo em cumprimento ao seu árduo ofício. Mas a natureza é sábia e Darwin, chefe-mor do Poupatempo-zoológico, não titubeou em carimbar a carteira de trabalho de cada bicho de acordo com o focinho do candidato. E não é que ele tinha razão? Já imaginou um albatroz elegantemente estacionado no topo da Catedral da Sé só à espera de uma lasca de churrasco-grego atirada inadvertidamente ao chão? No instante em que esse boing-penoso alçasse vôo em direção ao lanche desprezado, todos os camelôs teriam forçosamente que recolher suas barracas made-in-Ponte-da-Amizade sob o risco de darem adeus às suas mercadorias, engolidas pela lufada de ar das asas do gigante destemido. O rei dos animais não poderia ser outro senão o leão, a juba é que lhe dá esse direito! Tose o colarinho de um leão num pet shop da esquina e ele voltará para o seu lar no máximo como um motoboy a serviço do rinoceronte. Imagine se a girafa, com aquela cara de Mister Bean de pescoço avantajado, poderia pleitear um cargo de respeito na repartição da savana africana? Jamais! Aliás, é desse estigma que padece a hiena. Teria de tudo para virar um bicho de dignidade irreparável não fosse sua risada de taquara rachada. O cachorro só é o melhor amigo do homem porque não fala, no instante em que um totó abrir a boca para comentar sobre as perspectivas em torno do futuro dos acusados do mensalão ele perderá seu emprego de Sancho Pança da raça dos sapiens. Na empresa da terra, os animais não falseiam, desempenham a tarefa que lhes foi entregue e isso basta. Diferente de nós, humanos, que estamos o tempo inteiro atrás de uma revisão a respeito do que somos ou poderíamos vir a ser. Essa coisa chamada consciência vive nos pregando demissões por justa causa, nunca satisfeita em ser o que é, porque já essa certeza – a de ser alguém, nos escapa a cada instante. A regra é fingir, falsear, driblar, escamotear, constantemente num exercício camaleônico de busca pelo emprego ideal que se encaixe na perfeição dos nossos desejos. Nunca será encontrado. Darwin é o nosso inimigo mortal, não há ocupação que combine com esse focinho empreendedor.         

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