domingo, 28 de outubro de 2012

NADA!


Senhoras e senhores discursarei sobre o nada e desde já aviso que a respeito do nada não há nada o que se possa dizer afirmar sublinhar quiçá conjecturar o que torna toda essa minha empreitada uma completa idiotice mas alto lá não tratemos as idiotices como um nada desprezível já que é justamente pela soma das idiotices que o mundo ganha o seu combustível para continuar a girar da mesma forma nada especial que já estamos cansados de conhecer ah senhores como é bom não ter o que falar e mesmo assim buscar argumentos para nada dizer sinto-me como um orgulhoso viajante que pega o trem na estação lugar-nenhum com destino vai-saber-onde admirando sempre aquela linda e rara paisagem que não existe do lado de fora mas acreditem meus caros senhores a brisa que bate no rosto de quem não tem nada a dizer é de uma inspiração fulminante a ponto de batizar os sortudos dessa infrutífera experiência com o diploma em branco assinado pelas tintas invisíveis ah senhores um brinde com copo seco para todos aqueles que como eu não tiveram na vida coisa nenhuma a dizer ou fazer e que povoaram páginas inteiras com palavras que fingiam significar algo de útil formando tomos embolorados altamente requisitados nas prateleiras das academias vejam senhores não é preciso muito para falar nada basta relaxar as pontas dos dedos e deixá-los correr pela superfície lisa do teclado do seu computador esvaziando a cabeça para que nenhuma ideia possa ousar se esgueirar pelos meandros cinzentos do seu digníssimo cérebro no início o exercício pode ser um pouco penoso porque não são todos os que costumam arriscar suas parcas energias em escrutinar os becos sem saída dessa matéria filosófica tão pouco tratada mas de fundamental importância para coisa alguma mas coragem ânimo dedicação valentia superação bravo muito bem clap clap clap libere seu eu interior abra seu coração e namastê !!! isso que eu acabei de fazer meus senhores é o que chamamos de literatura de auto-ajuda um ramo muito conhecido daquilo que nada vale mas que uma vez nada sendo ganha direito de permanecer latejando nas artérias cavernosas desse nosso ser olhem só senhores o tempo urge os passarinhos começam a cantar lá fora e tudo o que de poético eu guardo em mim é um apelo frenético à ausência de conteúdos portanto amém e que Deus seja ele quem for vos proteja porque amanhã já é hoje e ainda há muita coisa para desperdiçar nessa lua ensolarada que nada diz mas que nunca deixa de nos esquentar...

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