terça-feira, 6 de novembro de 2012

Confesso-vos [zapt!]: cortei o cabelo...


Senhoras e senhores, venho por meio desta – porque os meios obtusos aos quais costumava recorrer andam deveras estacionários tal qual a 25 de Março em véspera de assassinato do peru natalino – anunciar a mais evidente das querelas capilares: cortei o cabelo. Cortei-o porquê é meu, e uma vez meu dou-me o legítimo direito de ceifá-lo dos campos encefálicos cultivados desde tenra infância sem maiores autorizações de vossa parte, sendo assim, vá criticar o Zé da esquina, já que ele sim não soube sepultar suas madeixas propriamente, incorrendo em graves conseqüências jurídicas cabíveis a todo aquele que inadvertidamente despreza o significado deste ato tão glorioso que é vaporizar o teto do ser, assassinando-o de forma sádica sem ao menos oferecer-lhe uma singela homenagem póstuma ou mesmo mandar rezar um réquiem em latim. Senhoras e senhores, digo-vos: cortei o cabelo. Ao cortar o cabelo, senhoras e senhores, emancipei meu caráter, sim, porque é da natureza do cabeludo perder-se nas ondulações sinuosas da vida, gastando tempo precioso ao afastar a franja dos olhos – olhos cujo douto conhecido cujo nome me falha a memória [um filósofo não tão arguto quanto eu, provavelmente] já dizia ser as janelas da alma. Fora a questão do horizonte nublado pelo ricochetear cabelal, há que se levar em consideração o abafamento involuntário das orelhas, privadas – pobrezinhas – de uma perfeita ressonância acústica encéfalo-cranial pela concha cabeluda que se forma por toda a extensão fronteiriça dos seus domínios auditivos. Creio não ser necessário dispensar tempo analisando as graves conseqüências por parte do triste cidadão condenado a não escutar a labuta dos próprios neurônios trabalhando... Senhoras e senhores, é preciso ouvir bem e ter um alcance visual adequado para não se deixar desviar pelas serras auspiciosas dos vícios pecaminosos... Ah, senhoras e senhores, o barbeiro deveria ser mais respeitado nesse nosso mundo de misérias intelectuais, onde vaga por aí uma série de barafundas retóricas sem qualquer fundamento político! Não, caros leitores, o barbeiro afasta-se dos bancos das academias para se tornar o Buda do espírito vanguardístico, silencioso nas suas afiadas zapeadas tesourais, mas altamente fundamental no aprimoramento ético e moral de todo aquele que se dedicar a conhecer um pouquinho mais sobre a natureza da sua touca perucal. Ah, confesso: cortei o cabelo, e ao cortá-lo, eis-me aqui, um novo homem, agora ainda mais preparado para enfrentar as agruras dessa aventura terrena.

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