sábado, 22 de dezembro de 2012

A fórmula da burrice!



Senhoras e senhores, descobri a fórmula da burrice! Confio-vos secretamente o segredo desse meu monumental achado com a condição de não surripiá-lo de mim, outorgando a vós aquilo que por direito cabe a minha honesta e elegante pessoa! Senhoras e senhores, estou animadíssimo com minha habilidade investigatória no campo antropológico-científico da análise programática da mentecapice-aguda, e confesso-vos que ainda não tive tempo de lavrar a autoria disso que eu chamo de Eureca-dos-Estúpidos, tão prontamente me dispus a retornar da minha pesquisa de campo para contar-vos o que vi numa simples e ingênua ida ao cinema. Como acabo de dizer, estava eu indo ao cinema quando ultrapasso com meu potente veículo um carro que no mais último volume repercutia um funk desses do tipo ‘vai pro chão, vai pro chão, dêxa eu vê seu popozão – hu hu hu hu’. O som era tão alto que uma possível nave espacial que estivesse nas redondezas tentando contato com nossa paquidérmica raça humana voltaria para Marte com o seguinte recado: ‘Bora arrancar o disco voador pra Júpiter porque pelas bandas da Terra a coisa anda feia’. Senhoras e senhores, a primeira unidade integrante da fórmula da burrice é justamente o barulho, porque tudo o que é burro precisa de alto-falantes para polvilhar sua canastrice acéfala pelos mais variados recônditos ambientais; e sobre isso há uma prova irrefutável – já que é preciso, como todo cientista de respeito, avaliar as hipóteses e julgar as provas e contraprovas nos seus mais diferentes casos e cenários laboratoriais -  que consiste em imaginar outro sujeito testando os tímpanos alheios, mas dessa vez, ao invés do funk-do-popozão, estivesse compartilhando dentro do mesmo veículo a Nona Sinfonia de Beethoven, tudo no mais alto volume. Não, senhoras e senhores, Beethoven e sua turma das cordas, sopros e metais, está longe de precisar da cumplicidade do vizinho ao recorrer às orelhas públicas o sentido de sua existência. Um desgraçado nessa posição de divulgador da Ode à Alegria seria imediatamente internado no manicômio mais próximo, muito diferente do seu parceiro do Pancadão, idolatrado em comício político por fazer rebolar um sem número de pessoas. E aqui chegamos à segunda unidade da fórmula da burrice: a multidão. Senhoras e senhores, todo bando é burro, e basta adicionar barulho nessa muvuca para que as moléculas da estupidez comecem a cantar em refrão. Explico. No mesmo trajeto de ida ao cinema – que agora reconheço ter sido um atalho à sapiência dos falidos de QI – me deparo com uma fila homérica de carros em marcha lenta à espera de um lugarzinho no estacionamento de um show caipira. Senhoras e senhores, prestem bem atenção: mais de milhares de almas isentas de massa cinzenta aguardavam pacientemente sua vez de gastar seu rico dinheirinho para testemunhar uma dupla de sertanejos universitários a tremer o gogó na base do ‘Eu me amarrei-hey, eu me amarrei-hey, eu me amarrei no seu coração, eu me amarrei!’. É uma epidemia! Onde houver uma aglomeração, podeis ter certeza meus senhores, o alvo da querela será inevitavelmente um troço de fazer rolar de rir o sujeito minimamente instruído na arte do bom senso. Até aqui, respiremos um tiquinho para avançar com todo ímpeto que o ensejo merece, temos duas unidades da nossa equação da burrice: o barulho – sendo traduzida pela necessidade vital de se gritar ao longe para que o Papa ouça: ‘Eu sou uma Anta-Lobotomizada’ –, e a multidão – se quiserdes inteligência, não será na Rua 25 de Março que encontrareis! Enfins – cunho agora esse intratável plural inexistente porque no meio de tanta tolice ninguém é de ferro -, enfins, para concluir, basta adicionar calor ao barulho e à multidão que teremos como resultado o surgimento de um exemplar amebal, produto de tudo o que é estúpido, banal e fugaz. Senhoras e senhores, que me desculpem os apreciadores do Piscinão de Ramos e cercanias tropicais, mas o calor corrompe; bote o Dostoievski com os pés na areia de Ipanema e o russo vira imediatamente um vendedor de canga... nenhuma inteligência resiste ao coco tostado.
Barulho + Multidão + calor = desentupidor de pia na testa! Ah, descobri a fórmula da burrice! Nada de surrupiá-la de mim! Sou um gênio!      

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