domingo, 13 de janeiro de 2013

TU ÉS UM INTELECTUAL!



O golpe doeu. Acusaram-me de intelectual! ‘Tu és um intelectual’, foi o puxão dolorido de orelhas que recebi ao admitir que era um fiel espectador do Big Brother Brasil. Fui à lona, quase como um pobre coitado, vítima dum tabefe do Anderson Silva – UGH!   Preferia ter sido chamado de cafajeste, facínora, tocador anônimo de campainhas, larápio-de-virgens-puras, malandro-do-beco-da-aflição, sei lá! Acusem-me de qualquer coisa, menos de ‘intelectual’ – ‘Tu és um intelectual!’ Mentira, não foi assim que ocorreu o conluio difamatório à minha dignidade! Ninguém usa a segunda pessoa do singular para promover um xingamento, isso é coisa de gente intelectual que quer rebuscar o ocorrido ao povoar com firulas gramaticais um simples (mas potente) ato cotidiano! Santo Deus, seria eu um intelectual? Não! Tornar-se intelectual é o último grau de degenerescência que um pobre diabo poderia alcançar em vida (degenerescência? Hummm... palavras com mais de duas sílabas são munições típicas de intelectuais pós-graduados, todas armazenadas no paiol da erudição vocabular). Data Máxima Vênia, vossa excelência, permita-me refutar a acusação! Não sou droga de intelectual nenhum! A despeito de todos os meus defeitos, ainda procuro ser um bom menino, e se sou perigoso, só o sou contra mim mesmo, na minha tranqüila e frugal qualidade de misantropo hipocondríaco. O intelectual, ao contrário, é o sujeito mais temido pela ordem pública, é ele quem assume para si a responsabilidade de ser inteligente e, com isso, divulgar o exemplo da sua mente elevada como parâmetro de conduta para o restante dos humildes detentores de cabeças menos gabaritadas – ‘Vinde a mim, ó súditos sonhadores de becas acadêmicas!’. Claro que sou inteligente, do contrário seria burro, e para ser burro basta nascer.... não teria a vida desafios mais interessantes do que nascer burro e morrer burro? Não, não, vossa excelência deve admitir que a inteligência não é uma qualidade moral, mas um passatempo dos curiosos, um fardo divertido que cada um deveria se responsabilizar por vestir sem que houvesse nenhuma pressão para tal. O intelectual não! O intelectual se prepara para ser intelectual no desejo de intelectualizar o próximo, muito mais na ânsia de ser aplaudido no púlpito da sapiência, é verdade, do que qualquer outra benevolência altruística, mas, ainda assim, o intelectual faz pose de intelectual, e eu, excelência, tenho como princípio desconfiar de todo mundo que queira me dizer como me portar, ainda que o companheiro de luta tenha as melhores intenções para comigo! Não, não! A minha inteligência é sinônimo de combustível que alimenta a desconfiança, e é com ela que eu fujo peremptoriamente - humm que palavra mais intelectual essa! – da tentação pela verdade. Eu leio muito, vossa excelência, mas não o tanto que gostaria de ler, e se leio num primeiro momento na intenção de entender melhor o nosso mundo, ultrapasso rapidamente esse espelho fiel da vida para incorrer num movimento inverso de fuga de tudo o que é real e comprovável como teoria. Fujo da verdade como o diabo foge da cruz. Eu gosto da ficção, excelência! Gosto dos fabuladores, dos produtores de fantasia, eu gosto do teatro, da mentira e da fraude, porque é nesse lugar de mistério sem solução que eu posso regozijar-me de rir dessa massa de intelectuais que corre atrás do próprio rabo ao achar que existe uma maneira eficiente de se higienizar a miséria humana! Se Deus falhou com os seus dez mandamentos – pobre do Moisés – seria eu, excelência, um reles apreciador das azeitonas verdes, o portador da boa nova? Ah não! Longe de mim! Eu deprecio qualquer tipo de evangelho e tenho um prazer enorme de afugentar todo e qualquer cordeirinho que queira me seguir pelos campos verdejantes dessa vida! Vá procurar outro cajado que o meu eu uso pra brincar de equilibrar na ponta do meu nariz! Eu chafurdo na lama da incoerência, não guardo no bolso nenhuma equação de causa e efeito e transito sem problema algum no meio de tudo o que qualificam como ‘intratável aos parâmetros da boa formação’. ‘Tu és um intelectual’ – cuidado com os intelectuais! Os intelectuais das artes, então... são os piores! Saem por aí a divulgar a cartilha do gosto estético, filipetando manuais do sucesso e da bem aventurança social. Saravá! Data Máxima Vênia, vossa excelência! Na minha humilde palhoça existencial, na qual habito sem nenhuma pretensão de torná-la um condomínio, eu vivo cada dia na ideia de menos saber, menos ter certeza... não é fácil e as dúvidas são muitas! Mas se há uma convicção comigo é a de que eu não sou droga de intelectual nenhum!

Agora, com todo respeito, estou indo comprar o Pay-Per-View do BBB13!

Obs: LUTO – Bam-Bam desistiu! 

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