O golpe doeu. Acusaram-me de intelectual! ‘Tu és um
intelectual’, foi o puxão dolorido de orelhas que recebi ao admitir que era um
fiel espectador do Big Brother Brasil. Fui à lona, quase como um pobre coitado,
vítima dum tabefe do Anderson Silva – UGH!
Preferia ter sido chamado de cafajeste, facínora, tocador anônimo de
campainhas, larápio-de-virgens-puras, malandro-do-beco-da-aflição, sei lá!
Acusem-me de qualquer coisa, menos de ‘intelectual’ – ‘Tu és um intelectual!’
Mentira, não foi assim que ocorreu o conluio difamatório à minha dignidade!
Ninguém usa a segunda pessoa do singular para promover um xingamento, isso é
coisa de gente intelectual que quer rebuscar o ocorrido ao povoar com firulas
gramaticais um simples (mas potente) ato cotidiano! Santo Deus, seria eu um
intelectual? Não! Tornar-se intelectual é o último grau de degenerescência que
um pobre diabo poderia alcançar em vida (degenerescência? Hummm... palavras com
mais de duas sílabas são munições típicas de intelectuais pós-graduados, todas
armazenadas no paiol da erudição vocabular). Data Máxima Vênia, vossa
excelência, permita-me refutar a acusação! Não sou droga de intelectual nenhum!
A despeito de todos os meus defeitos, ainda procuro ser um bom menino, e se sou
perigoso, só o sou contra mim mesmo, na minha tranqüila e frugal qualidade de
misantropo hipocondríaco. O intelectual, ao contrário, é o sujeito mais temido
pela ordem pública, é ele quem assume para si a responsabilidade de ser
inteligente e, com isso, divulgar o exemplo da sua mente elevada como parâmetro
de conduta para o restante dos humildes detentores de cabeças menos gabaritadas
– ‘Vinde a mim, ó súditos sonhadores de becas acadêmicas!’. Claro que sou
inteligente, do contrário seria burro, e para ser burro basta nascer.... não
teria a vida desafios mais interessantes do que nascer burro e morrer burro?
Não, não, vossa excelência deve admitir que a inteligência não é uma qualidade
moral, mas um passatempo dos curiosos, um fardo divertido que cada um deveria
se responsabilizar por vestir sem que houvesse nenhuma pressão para tal. O
intelectual não! O intelectual se prepara para ser intelectual no desejo de
intelectualizar o próximo, muito mais na ânsia de ser aplaudido no púlpito da
sapiência, é verdade, do que qualquer outra benevolência altruística, mas,
ainda assim, o intelectual faz pose de intelectual, e eu, excelência, tenho
como princípio desconfiar de todo mundo que queira me dizer como me portar,
ainda que o companheiro de luta tenha as melhores intenções para comigo! Não,
não! A minha inteligência é sinônimo de combustível que alimenta a
desconfiança, e é com ela que eu fujo peremptoriamente - humm que palavra mais
intelectual essa! – da tentação pela verdade. Eu leio muito, vossa excelência,
mas não o tanto que gostaria de ler, e se leio num primeiro momento na intenção
de entender melhor o nosso mundo, ultrapasso rapidamente esse espelho fiel da
vida para incorrer num movimento inverso de fuga de tudo o que é real e
comprovável como teoria. Fujo da verdade como o diabo foge da cruz. Eu gosto da
ficção, excelência! Gosto dos fabuladores, dos produtores de fantasia, eu gosto
do teatro, da mentira e da fraude, porque é nesse lugar de mistério sem solução
que eu posso regozijar-me de rir dessa massa de intelectuais que corre atrás do
próprio rabo ao achar que existe uma maneira eficiente de se higienizar a
miséria humana! Se Deus falhou com os seus dez mandamentos – pobre do Moisés –
seria eu, excelência, um reles apreciador das azeitonas verdes, o portador da
boa nova? Ah não! Longe de mim! Eu deprecio qualquer tipo de evangelho e tenho
um prazer enorme de afugentar todo e qualquer cordeirinho que queira me seguir
pelos campos verdejantes dessa vida! Vá procurar outro cajado que o meu eu uso
pra brincar de equilibrar na ponta do meu nariz! Eu chafurdo na lama da
incoerência, não guardo no bolso nenhuma equação de causa e efeito e transito
sem problema algum no meio de tudo o que qualificam como ‘intratável aos
parâmetros da boa formação’. ‘Tu és um intelectual’ – cuidado com os
intelectuais! Os intelectuais das artes, então... são os piores! Saem por aí a
divulgar a cartilha do gosto estético, filipetando manuais do sucesso e da bem
aventurança social. Saravá! Data Máxima Vênia, vossa excelência! Na minha humilde
palhoça existencial, na qual habito sem nenhuma pretensão de torná-la um
condomínio, eu vivo cada dia na ideia de menos saber, menos ter certeza... não
é fácil e as dúvidas são muitas! Mas se há uma convicção comigo é a de que eu
não sou droga de intelectual nenhum!
Agora, com todo respeito, estou indo comprar o Pay-Per-View
do BBB13!
Obs: LUTO – Bam-Bam desistiu!
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