sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

HÁ UM ESPETÁCULO LONGE DO ESPETÁCULO...



Há um espetáculo longe do espetáculo,
Um palco todo escondido dos olhos de quem vê –
Lugar de silêncio e escuridão sem vida,
Onde um elenco de anônimos se veste de preto para a cada noite estrear uma peça nunca Aplaudida.

Antes de a cortina subir,
Como que ansiosos para sumir,
Esse time de fantasmas não existe para quem olha,
Fazendo da sua ausência o corredor de luz para que o ator brilhe
Ao ser visto.

Lados opostos e complementares de uma moeda –
Quando a Cara some é porque a Coroa quis dar às caras,
E se é a Coroa quem desaparece, não foi por outra coisa senão pelo desejo da Cara de ser coroada com o ar da sua graça.

Mas no caso do teatro a moeda é viciada,
Afinal, é sempre o ator o exibido,
E todo o resto que se contente com um tapinha nas costas de
Bom trabalho meu caro amigo...

O grande barato do teatro não é a ilusão daquilo que se cria,
O espaço de luz é apenas parte da brincadeira,
Cabendo aos cantos escuros dos bastidores a metade infalível de toda a magia.
A esses becos é que damos o nome de coxia.

E é lá que se dá o desmonte,
Quando as máscaras compostas escorrem na esteira de verdades forjadas...
É tudo mentira – graças a Deus – e disso bem sabemos,
Mas não demora muito e já inventar novas verdades queremos.

E lá se vai o ator, vestido e paramentado pelos anjos invisíveis,
Exército todo poderoso das alamedas sombrias,
Faces sem rosto,
De movimentos inaudíveis.

Há um espetáculo longe do espetáculo,
Um palco escondido a que todos desejam se abster,
E não fosse pelo maquinista-sem-nome subir a cortina,
Voltaríamos para casa sem nada ver.

Ao final, são os falantes os aplaudidos,
E ainda que exibidos,
Deveriam prestar reverências a quem os fez ver, sumindo.

O que seria do teatro sem as suas zonas de mistério?
Morte certa caso tudo fosse visível,
Engraçado pensar que há toda uma gratificação para quem não existe, existindo...
E muito!

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