terça-feira, 5 de março de 2013

A POLÊMICA RENÚNCIA...



A deposição do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte trouxe à tona um cocuruto envelhecido e todo enrugado; não que por debaixo de tão renomada comenda existisse outra coisa senão justamente um cocuruto envelhecido e todo enrugado, mas, uma vez de posse do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte, especialmente de posse no cocuruto, todo cocuruto envelhecido e todo enrugado ganha o nobre direito de se esconder galhardamente por detrás dessa que é a menina de ouro dos olhos dos paquidermes envelhecidos e enrugados ao qual temos conhecimento. A história do chapéu poucos sabem, quiçá dos penachos – penas alongadas que se crêem recolhidas dos pavões albinos da Criméia do Norte, processo dolorido (ou doloroso?) em que ao final o pobre bicho é sacrificado, não por mãos humanas, mas por vontade própria do animal que num guinchado trágico só audível aos portadores de penas, atira-se heroicamente dum precipício para estatelar-se ao chão. Nossos sinceros e respeitosos votos a todos os pavões albinos da Criméia do Norte que já não mais estão entre nós [Réquiem-Réquiem-Réquiem-Réquiem]. Enfim, a renúncia oficial do dono do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte causou alvoroço. Por que raios haveria o seu portador aberto mão, ou melhor, descoberto a cabeça, desse elixir dos topetes mundanos? Houve quem por justa suspeita associasse o surpreendente gesto à convicção de que nunca existiram pavões albinos, tornando o autor da polêmica da deposição um militante feroz a favor da verdade suprema a qual ronda esse mito de que os penachos do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte são advindos dos pavões albinos da Criméia do Norte. Portanto, se os penachos do famigerado Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte não provém de pavões albinos, qual seria então a procedência desses floreios emplumados? Antes que se considere irrelevante tal inquisição sócio-biológica, é bom que se diga que a dúvida é cabível e até urgente de ser compartilhada na esfera pública, uma vez que a lei prevê nos seus artigos constituintes o direito de todos, enrugados ou não, de saber quais penas içam por cima de suas cabeças, dando a elas o devido valor em tomando por certo a origem galinácea dos seus pássaros-portadores. Enfim, o problema não estaria alimentado por completo se a inquietante renúncia do dono do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte também não levantassem suspeitas retumbantes não somente a respeito da existência ou não de pavões albinos, mas, também, sobre as coordenadas corretas que entabulam no mapa o território da tão conceituada e misteriosa Criméia do Norte. É certo que nunca ninguém antes houvera estado por ali, mas se pelo menos alguém soubesse onde é esse ‘ali’ as coisas refreariam os ânimos de uma ala específica de manifestantes que, tão rapidamente recebida a notícia da renúncia do portador do Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte, pôs-se em marcha pelas ruas da Criméia do Sul entoando gritos de: ‘A Criméia do Norte não existe! A Criméia do Norte não Existe! A Criméia do Norte não existe!’. Ora veja, quantos nós cegos foram atados nesse simples gesto que de simples não tem nada! Mas ainda que a renúncia seja um ato inesperado, quiçá criminoso, eu aqui venho denunciar aqueles que arrebitam os narizes ao questionar a liberdade inviolável que todos nós da Criméia do Sul, enrugados ou não, temos de renunciar ou abrir mão, ou descobrir a cabeça, ou seja lá o que for, do que quer que seja! Ou alguém aqui deseja renunciar ao desejo de um dia poder renunciar a posse do venerado Chapéu-de-Penachos-de-Pavão-Albino-da-Criméia-do-Norte? Eu, por mim, permaneço a descoberto, mas é certo que um dia chegará a minha vez de aninhar algumas penas sobre minha consciência, e objetaria ferozmente caso houvesse resistência por parte de sei lá quem em me impedir de trocar os ninhos de pelicano por outros de pintassilgo. Ora veja! Que os penachos de pavão albino da Criméia do Norte descansem em paz... ainda que não haja pavões albinos, ainda que nunca se tenha pisado nessa tal de Criméia do Norte...

Finito!

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