quarta-feira, 6 de março de 2013

Bendita folha...



Bendita folha de papel
Território de quatro beiradas
Do qual liberto-me do absurdo dos dias
Das viagens turbulentas 
Do vapor indiscreto do ir e vir
Quão necessário sinto-me o partir!
E na covardia do resistir
Fico-me entre as linhas 
Das miragens que da imaginação faço minhas
Um ficar para não sair
Saindo de fora para tornar ao seio
Regresso ao que se deixou perder
Sem saber

Mergulho de profundidade desconhecida
Cada frase uma descida
Ao poço que de mim cavo por dentro

Sobre tudo o que a superfície convoca tenho receio
Não dos medos afeitos aos viajantes
Mas das certezas de rasas paragens
Dos atalhos da mesmice
Do teatro da canastrice

O que são as travessias senão uma recusa ao primeiro vento?
Esse a que todos leva no embalo da existência
Sem o desejo da experiência
Do vagar à deriva...

Bendita folha de papel
Sobre a qual me perco
Achando-me por inteiro
Uma garrafa lançada ao mar
Do náufrago que do resgate não espera
Antes desejando outra era
De conversas mudas

O som do vento
O riscar das linhas
O içar das velas
O virar das folhas




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