quarta-feira, 6 de março de 2013

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Quando escrevo já não vejo
Sentido ou lampejo
Do que imaginava no início...
Ah, que suplício!
Terrível passagem é essa do pensar para o escrever
O certo seria desistir
Deitar no sofá e sorrir
Há uma obra prima em cada rima não escrita
Ah, preguiça bendita
O que fazer para lhe merecer?
E eis de novo aquele desejo
Espécie de cortejo
Sempre a correr por entre os dedos
Atiçando as palavras em desfile
Régia matilha de sílabas não ditas
Sacrificadas na sentença da escrita
E na página vão acabar
Condenadas ao Deus dará
Num eterno velar
A espera do um que chegar
A dar-lhes vida pela lida
E depois voltar a morrer
Um lamento no esquecimento
E eu, já morto pra elas, volto ao que era
Alguém convencido em nunca mais dizer
Ao menos um ativista contrário ao escrever
Mas basta isso pensar para novamente sofrer
Escrever é saber que não há nada a se fazer
A não ser se entregar ao prazer de padecer
Querendo e não tendo
A certeza da beleza
De um criar no perdurar



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