segunda-feira, 4 de março de 2013

NOSTALGIA DO UM QUE FUI...



Inventei um jeito de inventar
Um outro de mim que no meu lugar
Erra a vida tropicando aos cantos 

Sou um bêbado junto ao seu irmão:
A cachaça 
Um que ganha a ladeira da praça,
Escorregando das beiradas do caráter
Sempre com graça.

Ops! Lá venho eu cambaleando...
Quanta pirraça!

Bem vindo a mim, ó outro de mim!
Te quero assim, sábio no ofício do artifício
Um que me libera do que um dia fui, ou era...
Só de lembrar... Ah, que suplício!

Bem vindo a mim, ó fiel escudeiro de mim!
Bravo guerreiro das batalhas do existir!
Tu que com astúcia livras-me do país das veleidades
Não me quero aqui, faça-me partir!
Velas ao vento, brisa serena que se chama mentir...

Só de te ver, ah, como forço-me para não rir!

Bem vindo a mim, ó jangada de mim
A flutuar no mar dos sujeitos afeitos
À correnteza da esperteza!

Mas como ir embora, se eu do que fui ou era, saudades tenho?
Se vou embora já demora!
Então não!
Volto o leme para o que sou, ou virei,
Agora.

Inventei um outro do que sou
Sabendo-me longe de quem um dia quisera ser
Aquele um feito só de coração
Aquele único e sincero
Inimigo do disfarce
Um que pudesse dizer
O que de real há para ser dito
Sem incorrer no precipício do risco
Livre do padecer...

Mas como ser um que não se pode haver?

Triste imagem
Desse que virei
Outrora outro que sabia, ou sei,
Melhor.

O que resta a fazer?
Inventei um jeito de viver...



...

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