segunda-feira, 10 de junho de 2013

Fazedores de Multidões...

Dos vários castigos que a intermitência de existir nos impõe
É esse o de se unir aos nossos pares que tento fugir como o diabo foge da cruz
E me parece ser essa tentação de constituir multidões o que nos afunda ainda mais, mas afunda só a nós, humanos que somos, almas nobres sustentadas por duas pernas pensantes...
Veja se um cão, ou qualquer animal que seja, agrilhoa-se por livre e espontânea vontade aos seus companheiros de espécie
No máximo juntam-se para depois se separar, nada competindo em importância ao fato de poderem desfrutar da sensação de liberdade que é estar só, entregues que estão às forças da natureza...
Porque é essa a questão: deliberamos nós muito a respeito da liberdade, concordamos com ela até, mas na hora de aplicá-la às nossas vidas, preferimos, sem admitir, é verdade, o conforto das prisões coletivas...
O que são nossas cidades de hoje senão verdadeiras penitenciárias, forçando-nos a engolir sua fumaça, a tropeçar na massa de transeuntes apressados, sempre intranquilos com uma tal frequência de ruídos e atribulações das mais variadas???...
E, ainda assim, louvamos o que somos, ou o que viramos - um conjunto sem rosto, plateia de um espetáculo grotesco: nossa própria covardia em resistir à liberdade de poder encarar a vida na sua dimensão mais simples...
Hoje em dia, o olhar silencioso de um cão me é mais inspirador que a totalidade das teorias humanitárias que adoramos revolver quando o assunto é: como viver melhor e com mais civilidade...
Há uma sabedoria infinita no silêncio dos animais, coisa que não suportamos justamente porque adoramos tagarelar, escrever, pensar - tal como faço eu agora...
Nossa capacidade de raciocinar sobre o que somos é o que nos arruína, porque com essa coisa escabrosa chamada consciência desejamos sempre melhorar, e é esse dado moral que nos torna - sem que saibamos -, assassinos, bandidos, e todo o resto dessa corja de conspiradores contra a liberdade de tão somente existir...
Ter um cão, hoje em dia, significa algo imperioso, talvez mais importante do que frequentar essa infinidade de academias, tão parecidas que são aos shoppings centers, onde se vende de tudo, principalmente os mais rápidos meios de como se tornar um presidiário estúpido...
Se pudesse reivindicar algo, reivindicaria isso: sejamos solitários ao extremo, cada um no seu universo particular e, de preferência, ao alcance das orelhas peludas de um belo de um cão...

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