quinta-feira, 13 de junho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O fim de Ananias Anastácio...

Ananias Anastácio teve uma vida imprestável. Viveu enquanto pôde, depois morreu. E se soubéssemos que Ananias Anastácio não está mais entre nós, pouco ou nada mudaria, uma vez que ninguém sequer soube que ele, um dia, nasceu. Sabendo agora que houve um dia alguém que respondia pelo nome de Ananias Anastácio, é bom que se diga que ele, o tal do Ananias Anastácio, não só teve uma vida inútil como ele próprio foi um inútil enquanto vivia. Não que Ananias Anastácio, quando vivo, fosse um homem de nenhuma utilidade! Muito pelo contrário! Mas é exatamente por Ananias Anastácio ter passado a sua vida inteira querendo ser útil, coisa que de fato Ananias Anastácio fora, é que no saldo geral podemos concluir que Ananias Anastácio nada de consistente conseguiu imprimir à sua imprestável existência. Não que Ananias Anastácio tenha sido um imprestável absoluto enquanto vivia! Muito pelo contrário! Mas justamente por ter passado a sua vida interia se prestando aos serviços alheios é que Ananias Anastácio não conseguiu ser outro senão o que os outros quiseram que ele fosse, terminando assim como um qualquer outro sem nome, ou um cujo nome poderia ter sido tantos quanto os dos milhares de Joãos da Cunha ou dos infindáveis Cláudios de PanchoVilla . Mas Ananias Anastácio foi um só, e morreu. E morreu porque quis, porque ele, Ananias Anastácio, marcou o próprio enterro, e sabendo como sabemos que não se deu o trabalho de convidar viva alma para o evento fúnebre, é só graças à Matilde – uma velha coruja habitante do cemitério -, que temos o precioso relato do que disse ele antes de pular dentro da cova aberta com o próprio suor, antes de empurrar para dentro do seu lar eterno a batelada de terra que o serviria como úmido cobertor nas noites do além. ‘Eu voltarei para me vingar!’. E nunca mais se soube, como antes nunca houvera sabido, desse que um dia viveu, e se morreu tanto faz, de nome já dito: Ananias Anastácio...

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