sábado, 22 de junho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O Fim de Ernesto, o maestro...



Ernesto, o maestro, teve uma vida inteira dedicada à música. Foram muitas as sinfonias, para não dizer todas as sinfonias que se há para conhecer, que tiveram saída sob a batuta de Ernesto, o maestro. As integrais de Beethoven, Mozart, Haydn, todos os compositores, enfim, desde aqueles do barroco-antigo, passando pelos clássicos, românticos e modernos-contemporâneos, todos, sem exceção, fizeram de Ernesto, o maestro, o que ele é, ou foi até ontem - quando morreu -, o mais importante maestro da nossa geração. Curiosidades à parte, o fato é que, se falamos que Ernesto, o maestro, fora um dos indiscutíveis talentos da regência orquestral erudita - o primeiro a aparecer depois de um terrível vácuo após a morte do inesquecível, talvez o maior de todos, maestro alemão, Urich Kapsberg – o maestro que se notabilizou por soltar grunhidos esquisitos enquanto regia, especialmente nas partes mais emotivas da melodia -, é porque, enfim, reservamos sua lembrança não só como motivo de homenagem póstuma, já que ontem deverá ficar na história como um triste dia para os apreciadores de música sinfônica, uma vez que ele, Ernesto, o maestro, deixou de existir para entrar nos anais da memória dessa arte tão apreciada que é, justamente, a música sinfônica-orquestral-erudita, mas também, curiosidades à parte, falamos de Ernesto, o maestro, para esclarecer que ele, o próprio Ernesto, o maestro, nunca na vida pôde se apresentar publicamente, quiçá ser visto andando pelas ruas, ou mesmo sendo entrevistado por algum programa de televisão, não havendo quem, nem mesmo alguém que, em sã consciência, possa ter jurado em afirmar: ‘sim, eu vi ele regendo, ele, o grande e inesquecível Ernesto, o maestro’; nem mesmo as orquestras sinfônicas, nenhuma delas, tem nos seus registros a passagem desse famoso maestro invisível, mas que todos, a despeito de conhecê-lo ou não, indiscutivelmente amam, a ponto de jurarem em dizer: ‘sim, definitivamente ele, Ernesto, o maestro, é um dos grandes, quiçá o maior deles que apareceu, é claro, depois de um terrível vácuo após a morte do inesquecível, talvez o maior de todos, maestro alemão, Urich Kapsberg – o maestro que se notabilizou por soltar arrotos altíssimos enquanto regia, especialmente nas partes mais efusivas da melodia; de forma que ele, Ernesto, o maestro, angariou toda a sua fama e respeitabilidade frente ao meio social e musical em geral unicamente através do boca à boca que se fazia sobre a sua pessoa, reforçando sua magistralidade nunca antes comprovada na medida em que os frequentadores das salas de concerto e das mídias tecnológicas faziam questão de reforçar nas mais diveras ocasiões que ele, Ernesto, o maestro, continuava no topo da excelência da sua arte, a regência da música sinfônica-orquestral-erudita. Pois ontem, depois de tantos anos dedicando-se à regência da música sinfônica-orquestral-erudita, um concerto comemorativo foi marcado em homenagem justamente a ele, Ernesto, o maestro, ocasião especial em que justamente ele, Ernesto, o maestro, iria pessoalmente reger a famosa orquestra da Bratislava. A expectativa foi grande entre todos os amantes da música e curiosos por ver ao vivo esse grande mito de nome Erneto, o maestro, e, como haveria de se prever, a totalidade dos ingressos se esgotou em pouco tempo. A sala estava cheia. As madames desfilavam seus vestidos, exalando fragrâncias de perfumes variados, enquanto os maridos alinhavam-se em ternos finíssimos. Os músicos afinavam seus instrumentos à espera do spalla da orquestra, o violinista Smirilovich Smiriálov Dantchenko. Eis que o spalla entra na sala de concertos, e o público silencia. A nota ‘lá’ é dada pelo oboé.  Segue-se a afinação dos metais, madeiras e cordas.  Smirilovich Smiriálov Dantchenko se senta. Silêncio mortal. Agora a próxima entrada era a dele, a de Ernesto, o maestro, para a execução da grandiosa Sinfonia Inacabada, de Schubert. A porta, finalmente, se abre, mas quem entra não é Erneto, o maestro, senão uma mulher elegantíssima, vestida num luto abrasador, com um véu a lhe cobrir o rosto fino mas evidentemente inchado, prova inconteste de que passara horas vertendo lágrimas pesadas. Ela, supostamente a viuva dele, do Ernesto, o maestro, afirma então que ele, Erneto, o maestro, havia tido uma síncope convulsiva no seu camarim instantes antes de se aprontar para o concerto. Morrera dali há pouco, segundos atrás. Pausa dramática. E então, num êxtase emotivo, coisa só despertada pelas grandes personalidades, a plateia e o público, em meio a soluços e pequenas orações mudas, romperam num estrondoso aplauso, não sem antes compartilhar da lindíssima ‘marcha fúnebre’ de Choppin, intrpretada brilhantemente pela famosa orquestra da Bratislava, cujo spalla era ele, o brilhantíssimo violinista Smirilovich Smiriálov Dantchenko, mas que, infelizmente, não pôde contar com a mão habilidosa desse que, ao segurar a batuta, diziam, era o mais fenomenal maestro da nossa geração, depois, é claro, do terrível vácuo após a morte do inesquecível, talvez o maior de todos, maestro alemão, Urich Kapsberg – o maestro que se notabilizou por espirrar enquanto regia, especialmente nas partes em que a percussão decretava o final retumbante da melodia...


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