quarta-feira, 5 de junho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES #O fim do Escultor de Bustos de Bronze...

O Escultor de Bustos de Bronze, acostumado que estava a eternizar personalidades dignas de memória, morreu, não havendo um único Santos Dummont ou Pedro Álvares Cabral que lhe rogasse aplausos pelos anos dedicados ao metal fundido. Trágica condição a desse Escultor de Bustos de Bronze, já que, uma vez vivo, e sábio o suficiente por compreender que seria condenado ao ostracismo caso orientasse a sua vida à causa dos de carne e osso, não coube em tempo, ou, descobriu tarde demais – já na condição de defunto, que os monumentos são invariavelmente sádicos pelo lado oposto ao dos vivos, uma vez que, silenciosos, não servem para muita coisa a não ser virar ponto de referência aos dormitórios de mendigos, quando muito alvo dos vira-latas mijões, talvez uma vingança justa, já que, uma vez envernizados na condenação da eternidade, não passam de espectros vazios, e, se são feitos para durar, só duram porque nada mais significam, tal qual esse nosso escultor de bustos de bronze, que agora sumiu sem que houvéssemos sequer lembrança pelo seu nome, quiçá uma estátua de gesso que nos pudesse dizer: esse, um dia, existiu... 

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