sábado, 12 de outubro de 2013

OCUPAÇÕES INDIGNAS DE URGÊNCIA EMBLEMÁTICA – # O fazedor de cavaletes.


Não se constrói um cavalete assim, com essa cara de quem acabou de se levantar da cama. Porque a cara de quem se levantou da cama é sempre uma cara de quem se levantou da cama, denunciadora da tragédia que é ter se levantado da cama mais uma vez, e, não obstante a isso, erguendo-se da cama justamente com ela, a mesma cara que ontem foi se deitar, e para os mesmos serviços a que está rotineiramente acostumada – ainda se pudéssemos decidir com que cara acordar, tudo seria infinitamente mais fácil. Ademais, encerramos essa questão da dificuldade de se ter uma cara que acabou de sair da cama e, portanto, incapaz de prestar para o exercício da fabricação de um cavalete, dizendo que esse tipo específico de qualidade de cara não nos serve para tão caro intento, que é o de reunir expedientes, tanto intelectuais quanto manuais, para dar conta dessa tarefa de construir um cavalete. O cavalete exige mais, é matéria de concentração árdua para fins de extrema utilidade pública, uma vez que o cavalete é peça fundamental, por exemplo, para se levar não sei quantos milhares de pessoas a determinado lugar escolhido por aquele que, não necessariamente o construtor de cavaletes, mas aquele que resolveu por ali largar esse totem de madeira talhado na proporção exata para manter-se em pé por séculos e mais séculos até que alguém, não necessariamente o construtor de cavaletes, mas alguém que por alguma razão sabe-se lá qual retire do lugar para alocá-lo em outro, e numa fila de iguais – porque um cavalete sempre anda em parceria com outros cavaletes – redirecionar essa massa de humanos que mui sabiamente um dia viu a necessidade de ser guiada feito rebanho de boi para onde quer que seja preciso ir, seja para lugares aprazíveis ou não tão aprazíveis assim, bastando como estímulo para levantar a cara diariamente da cama que esteja em constante movimento, movimento que participa da extrema necessidade de não ter razão ou motivo algum para ser, conquanto vá para onde tiver que ir, e nisso o cavalete nos auxilia. Veja, então, o porquê de darmos a devida atenção e valor a esse profissional que mui sabiamente coloca-se a favor dessa que talvez seja, ao menos pelos nossos cálculos não há dúvidas de que de fato seja, a mais crua e substancial necessidade humana de saber-se massa de manobra, e, portanto, humildemente ávida por cavaletes a serem erguidos como baias de retenção aos perigosos desvios ou arrogâncias daqueles poucos que, mui arbitrariamente e sem qualquer justificativa plausível, dizem: vou para onde quero e com as pernas que me deram...   

...



...

Nenhum comentário:

Postar um comentário