segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Olho para ele, meu cão...

Olho para o meu cachorro que nada diz e entendo perfeitamente a nossa diferença. Ele é um bicho livre, depois de nascer não precisou de alguns poucos dias para se desgarrar da mãe. Ele, o cão, não é filiado a nenhum partido político, não tem ideias a defender, religião nenhuma passa na sua cabeça, quiçá tem a obrigação de batalhar alguma identidade ou se virar através de linguagens convencionadas e previamente cifradas. Ele, o meu invejável cão, também carrega consigo uma outra deslumbrante qualidade: não deseja outro mundo senão esse, não acredita em melhorar nada do que já existe, tudo o que há para se cheirar com o seu focinho lhe é mais do que suficiente para viver feliz. O cão é sem dúvida um bicho do seu tempo, dono e patrão do seu direito de existir sem que seja preciso reivindicar nada. Já eu, alçado ao último grau da escala da razão pensante, sou o inverso de tudo isso... para afirmar minha liberdade sou obrigado a virar prisioneiro de tudo o quanto é necessário para viver reafirmando: sou livre, ou desejo sê-lo, e assim viro escravo, continuamente agrilhoado aos meus pares, cada qual inventando novos jeitos de serem livres sem se darem conta de que são tudo o que pensam... menos livres de fato. Há em mim uma profunda inveja do meu cachorro, que ao evitar as questões metafísicas vive sem cerimônias outras. A derrocada do homem começou na Grécia, quando algum barbudo miserável resolveu inventar abstrações... de lá para cá, infelizmente, só estamos aumentando a velocidade com a qual corremos atrás do próprio rabo. (salvo os povos do oriente - que sempre foram infinitamente mais sábios que nós -, a vida como a conhecemos é uma coleção infindável de equívocos patéticos).

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