terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


Na plateia da orquestra 
Exigi adesão por parte do maestro
Tão descabelado cabelo haveria de se desperdiçar assim?
Que os bumbos não parem de ribombar! AVANTE, COMPANHEIROS!
E antes que pudesse encher-me de outros protestos,
Malditas cordas lamurientas!, que sem pedir autorização da minha alma, jogaram-me num campo florido, empesteado por odores malcheirosos de alfazema!
Disseram-me que o inimigo respondia por Beethoven -
Algum governador?
Ditador?
Malfeitor?
A velha ao meu lado, que até então jurava estar morta desde a descoberta da tumba de Tutancamon, soprou-me disfarçadamente:
Cala-te, homem! É o compositor!
Ainda vítima das coceiras nas narinas,
Quis escrever uma ode ao ódio
Mas o perfume era tanto e por toda a parte, que a única saída era ser dramático!
Vou enforcar-me, pensei!
Mártir da causa, é como serei lembrado!
E ao pular no palco, na iminência de roubar a nota grave do contra-baixo,
Os metais lá atrás fizeram-me valsar
1, 2, 3
1, 2, 3
E lá estava eu, saltitando no embalo duma fanfarra!
Mas que diabos, senhor maestro!
Aqui não se pode falar a sério?
A vida é uma causa sem jeito,
Sopraram os trompetes,
E era tanta alegria, que tive desejos profundos de escrever uma poesia:
"Ó linda música
Que rodopiar me faz
Quantas saudades tenho
Dos tempos em que era rapaz!"
TRAIDORES! EXPLORAM-ME AO RIDÍCULO! Caí em mim.
Afundei-me na cadeira já pensando:
E agora?
Mas tarde já estava
E uma maré de aplausos matava minhas vontades...
Dessa vez pegaram-me de jeito.
Jurei nunca mais pisar os pés numa sinfonia,
Ou quando o fizesse
Munido estaria de uma nova e preparada infantaria!
MAS QUE DIABOS! FORÇAM-ME A RIMAR!

Amanhã vou ao teatro...
Talvez Shakespeare junte-se a mim
E assine meu contrato.


...

...

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