segunda-feira, 21 de julho de 2014

Fábulas: # Autores? Defuntem! O quanto antes: defuntem!


Uma determinada editora de categoria considerável percebera uma tática infalível para aumentar suas vendas: desovar toneladas de exemplares de autores recém falecidos. De olho nos obituários, os leitores saíam correndo de suas casas para adquirir uma cópia daquele que nunca mais escreveria, desprezando como a um tio seboso e distante que há muito prometiam uma visita, mas nunca cumpriam, os demais escrevinhadores que teimavam em continuar a viver, e, pior, escrevendo. A editora, então, objetivando exponenciar seus dividendos, propôs aos autores de vindouro destaque que, tão logo escrevessem aquela que julgariam ser sua obra prima, fossem imediatamente fuzilados, medida que teve amplo apoio por parte do público-leitor, mas, evidentemente, repudiada pelos escritores e familiares. Em meio ao impasse, a editora de categoria considerável, articulada que era com os meandros políticos, conseguiu apoio do congresso nacional e aprovou a tal lei que previa a execução sumária de todo e qualquer dono das páginas que, de acordo agora com uma junta avaliadora formada por críticos literários e professores universitários de ilibado gabarito, reconhecesse em seu conteúdo um inequívoco diamante lapidar da literatura nacional. Mediante a sanção do presidente da república, o que de fato aconteceu nos dias subsequentes, os escritores montaram protesto permanente, e, desde então e até hoje, só escrevem porcarias a troco de não verem trocadas as suas vidas por uma memória distante, ainda que de prestigio garantido e celebrado. É por essa razão, afirmam os especialistas de gola requintada, que a literatura nacional continua a patinar no limbo da decadência, só havendo vez por outra, quando um autor resolve morrer sem aviso prévio e de causas injustificáveis, uma acelerada euforia ao redor da obra daquele que, enfim, deixará de importunar os medíocres que ainda vivem.


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