Uma determinada editora de categoria considerável percebera
uma tática infalível para aumentar suas vendas: desovar toneladas de exemplares
de autores recém falecidos. De olho nos obituários, os leitores saíam correndo
de suas casas para adquirir uma cópia daquele que nunca mais escreveria,
desprezando como a um tio seboso e distante que há muito prometiam uma visita,
mas nunca cumpriam, os demais escrevinhadores que teimavam em continuar a viver,
e, pior, escrevendo. A editora, então, objetivando exponenciar seus dividendos,
propôs aos autores de vindouro destaque que, tão logo escrevessem aquela que
julgariam ser sua obra prima, fossem imediatamente fuzilados, medida que teve
amplo apoio por parte do público-leitor, mas, evidentemente, repudiada pelos
escritores e familiares. Em meio ao impasse, a editora de categoria considerável,
articulada que era com os meandros políticos, conseguiu apoio do congresso
nacional e aprovou a tal lei que previa a execução sumária de todo e qualquer
dono das páginas que, de acordo agora com uma junta avaliadora formada por críticos
literários e professores universitários de ilibado gabarito, reconhecesse em
seu conteúdo um inequívoco diamante lapidar da literatura nacional. Mediante a
sanção do presidente da república, o que de fato aconteceu nos dias
subsequentes, os escritores montaram protesto permanente, e, desde então e até
hoje, só escrevem porcarias a troco de não verem trocadas as suas vidas por uma
memória distante, ainda que de prestigio garantido e celebrado. É por essa razão,
afirmam os especialistas de gola requintada, que a literatura nacional continua
a patinar no limbo da decadência, só havendo vez por outra, quando um autor
resolve morrer sem aviso prévio e de causas injustificáveis, uma acelerada
euforia ao redor da obra daquele que, enfim, deixará de importunar os medíocres
que ainda vivem.
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