O inventor do microfone tivera uma excepcional ideia: a de
inventar o microfone. E uma vez o microfone inventado, essa ferramenta genial
que amplifica aos rincões do mundo o que antes os gênios só podiam comunicar a
uma reduzida fatia de pupilos aprendizes, tornando-os esses os únicos
repassadores de suas privilegiadas ideias, outra questão de importante relevância
se impôs de imediato: o que fazer com essa maldita invenção chamada microfone?
Sim, porque uma vez que o microfone era coisa destituída de miolos e nada
afeita a pensar por si só, antes sendo um treco de metal em forma de sorvete elétrico,
não cabia a ele, evidentemente, filtrar os mentecaptos dos gênios, haja vista
que qualquer um poderia tomar para uso próprio, tanto os gênios quanto os
mentecaptos, essa incrível engenharia do sábio inventor e soltar o verbo para
quem quisesse ou não ouvi-lo. E assim, no dia da inauguração oficial do
microfone, houve por bem separar os mentecaptos dos gênios, e como todos
queriam por razões óbvias pertencer aos últimos, uma revolução armou-se com conseqüências
funestas, cada um defendendo o seu direito de pertencer aos aclamados de QI
invejável e denunciando os vizinhos como portadores da mais aguda mentecapície
endêmica. No final das contas o microfone, entre mortos e feridos e o único isento de opinião,
permaneceu incólume em sua altivez acéfala, o único a louvar o fato de não
precisar convencer a ninguém da sua imutável e amplificada dignidade de caráter.
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