sexta-feira, 11 de julho de 2014

Fábulas: # O Fazedor de Banquinhos de Madeira...



Lá na casa de número dois da rua X morava um Fazedor de Banquinhos de Madeira. Fazia banquinhos como ninguém. Quem precisasse de um banquinho de madeira bastava bater na porta lá da casa de número dois da rua X que mediante a um justo pagamento a empregada Olívia, assistente do Fazedor de Banquinhos de Madeira, entregava ao requisitante um exemplar desse produto primoroso ao qual todos rendiam homenagens quando necessitavam se sentar para descansar o lombo, ler os jornais, ou fazer crochê com fios de lã. Pois um dia uma estudante de nome Clotilde passava pela rua X tirando fotografias com a sua máquina digital e capturou o Fazedor de Banquinhos de Madeira espreguiçando-se no seu terraço no intervalo entre seu laborioso ofício artesanal. A foto foi publicada no dia seguinte no jornal do bairro logo abaixo do título de capa: ‘Fazedor de Banquinhos de Madeira espreguiça-se ao sol’. Imediatamente todos passaram a conhecer o tal Fazedor de Banquinhos de Madeira a quem todos sabiam existir, mas não pelo rosto que agora viam, e sim pelos banquinhos de madeira, indiscutivelmente os melhores banquinhos de madeira de toda a região.  Uma multidão formou-se então debaixo do terraço do Fazedor de Banquinhos de Madeira para esperá-lo sair de sua casa e poder vê-lo, com sorte,  espreguiçando-se ao sol. Bastava o Fazedor de Banquinhos de Madeira dar as caras para que todos lá debaixo berrassem: ‘Vejam lá o Fazedor de Banquinhos de Madeira! Viva o Fazedor de Banquinhos de Madeira!’. Uma emissora de televisão resolveu entrevistar o Fazedor de Banquinhos de Madeira em sua própria residência, perguntando-lhe as coisas mais diversas tais como: como é ser o melhor Fazedor de Banquinhos de Madeira da região e até mesmo o prato de comida preferido daquele que indiscutivelmente era o melhor Fazedor de Banquinhos de Madeira de toda a região. Com a popularidade em alta, o Fazedor de Banquinhos de Madeira não abandonava o seu ofício de fazedor de banquinhos, mas dividia o tempo entre ser o Fazedor de Banquinhos de Madeira e fazer os tais banquinhos de madeira, que agora, quando feitos, não vinham tão bem acabados quanto antes, chegando mesmo a quebrar quando alguém resolvia descansar o lombo, ler os jornais, ou fazer crochê com fios de lã. O tempo passou e hoje a casa de número dois da rua X é ponto de peregrinação para os curiosos que querem chegar perto dessa figura ilustre que se tornou o Fazedor de Banquinhos de Madeira, e se é verdade que já não são mais feitos banquinhos de madeira com tanta frequência– e quando o são desmontam ao menor apoio – ninguém parece importar-se, e tampouco o próprio Fazedor de Banquinhos de Madeira, que se não faz mais Banquinhos de Madeira, ganha a vida sendo o Fazedor de Banquinhos de Madeira que ora ou outra aparece no seu terraço para espreguiçar-se ao sol, aclamado aos urros: ‘Vejam! O Fazedor de Banquinhos de Madeira!!!’


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