Lá na casa de número dois da rua X morava um Fazedor de
Banquinhos de Madeira. Fazia banquinhos como ninguém. Quem precisasse de um
banquinho de madeira bastava bater na porta lá da casa de número dois da rua X
que mediante a um justo pagamento a empregada Olívia, assistente do Fazedor de
Banquinhos de Madeira, entregava ao requisitante um exemplar desse produto
primoroso ao qual todos rendiam homenagens quando necessitavam se sentar para
descansar o lombo, ler os jornais, ou fazer crochê com fios de lã. Pois um dia
uma estudante de nome Clotilde passava pela rua X tirando fotografias com a sua
máquina digital e capturou o Fazedor de Banquinhos de Madeira espreguiçando-se
no seu terraço no intervalo entre seu laborioso ofício artesanal. A foto foi
publicada no dia seguinte no jornal do bairro logo abaixo do título de capa:
‘Fazedor de Banquinhos de Madeira espreguiça-se ao sol’. Imediatamente todos
passaram a conhecer o tal Fazedor de Banquinhos de Madeira a quem todos sabiam
existir, mas não pelo rosto que agora viam, e sim pelos banquinhos de madeira,
indiscutivelmente os melhores banquinhos de madeira de toda a região. Uma multidão formou-se então debaixo do
terraço do Fazedor de Banquinhos de Madeira para esperá-lo sair de sua casa e
poder vê-lo, com sorte, espreguiçando-se
ao sol. Bastava o Fazedor de Banquinhos de Madeira dar as caras para que todos
lá debaixo berrassem: ‘Vejam lá o Fazedor de Banquinhos de Madeira! Viva o
Fazedor de Banquinhos de Madeira!’. Uma emissora de televisão resolveu
entrevistar o Fazedor de Banquinhos de Madeira em sua própria residência,
perguntando-lhe as coisas mais diversas tais como: como é ser o melhor Fazedor
de Banquinhos de Madeira da região e até mesmo o prato de comida preferido daquele
que indiscutivelmente era o melhor Fazedor de Banquinhos de Madeira de toda a
região. Com a popularidade em alta, o Fazedor de Banquinhos de Madeira não
abandonava o seu ofício de fazedor de banquinhos, mas dividia o tempo entre ser
o Fazedor de Banquinhos de Madeira e fazer os tais banquinhos de madeira, que
agora, quando feitos, não vinham tão bem acabados quanto antes, chegando mesmo
a quebrar quando alguém resolvia descansar o lombo, ler os jornais, ou fazer
crochê com fios de lã. O tempo passou e hoje a casa de número dois da rua X é
ponto de peregrinação para os curiosos que querem chegar perto dessa figura
ilustre que se tornou o Fazedor de Banquinhos de Madeira, e se é verdade que já
não são mais feitos banquinhos de madeira com tanta frequência– e quando o são
desmontam ao menor apoio – ninguém parece importar-se, e tampouco o próprio
Fazedor de Banquinhos de Madeira, que se não faz mais Banquinhos de Madeira,
ganha a vida sendo o Fazedor de Banquinhos de Madeira que ora ou outra aparece
no seu terraço para espreguiçar-se ao sol, aclamado aos urros: ‘Vejam! O
Fazedor de Banquinhos de Madeira!!!’
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