Um cego esgueirou-se inadvertidamente para dentro da Sala do
Silêncio, e como o silêncio já lhe era companheiro de todas as horas – as pupilas
aposentadas calavam o zumbido rotineiro daqueles que as tinham em plena forma
-, o cego enlouqueceu, somando o vazio da vista com o outro dos ouvidos mudos,
forçado pela boca calada dos videntes que na Sala do Silêncio formavam numerosa
plateia, e tratou de romper a regra fundamental ao tatear com sua vareta uma
possível rota de saída. TEC-TEC-TEC-TEC. Foi censurado, alvo de piadas e
chacotas preconceituosas, xingado em sussurros escabrosos até. Conseguiu
encontrar a porta e sair. A Sala do Silêncio, então, voltou ao normal, com
aquela sensação de que fora feita somente para o usufruto dos menos
privilegiados, aqueles que reuniam todos os sentidos sem falhas. Chega de
considerações. Silêncio agora.
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