sábado, 30 de agosto de 2014

Fábulas: # O cego e a Sala do Silêncio


Um cego esgueirou-se inadvertidamente para dentro da Sala do Silêncio, e como o silêncio já lhe era companheiro de todas as horas – as pupilas aposentadas calavam o zumbido rotineiro daqueles que as tinham em plena forma -, o cego enlouqueceu, somando o vazio da vista com o outro dos ouvidos mudos, forçado pela boca calada dos videntes que na Sala do Silêncio formavam numerosa plateia, e tratou de romper a regra fundamental ao tatear com sua vareta uma possível rota de saída. TEC-TEC-TEC-TEC. Foi censurado, alvo de piadas e chacotas preconceituosas, xingado em sussurros escabrosos até. Conseguiu encontrar a porta e sair. A Sala do Silêncio, então, voltou ao normal, com aquela sensação de que fora feita somente para o usufruto dos menos privilegiados, aqueles que reuniam todos os sentidos sem falhas. Chega de considerações. Silêncio agora.




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