segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Fábulas: # O caderno de variedades inventadas


Era uma vez um jornalista de reputação ilibada que tinha como curioso hábito esconder-se atrás de pseudônimos e mandar cartas elogiosas à redação sobre suas próprias matérias publicadas no caderno de variedades inventadas. Um dia inventou que o leão fugiu do circo e foi a sua desgraça. Dona Cândida, ávida consumidora do caderno de variedades inventadas, ligou para a redação em protesto veemente, dizendo que era impossível o leão ter fugido do circo uma vez que não havia circo nenhum na cidade e muito menos um leão a se perimir que fugisse. Mas é um caderno de variedades inventadas, atentou em defesa o chefe da redação do jornal. Pois que inventem sobre algo que existe! Duas invencionices combinadas anulam-se mutuamente fazendo-nos ver que a mais pura verdade é que não sabemos inventar nada! Esbravejava dona Cândida do outro lado da linha. Mediante a tamanha insistência, não houve outra coisa a fazer senão acionar o jornalista responsável pela matéria e adverti-lo. No dia seguinte, uma tal de Dona Cândida aparecia descrita na sessão dos obituários. E, por curioso que seja, o jornalista de reputação ilibada não apareceu para trabalhar. Nem no dia seguinte. Tampouco na semana seguinte ele apareceu. Soube-se que morreu. Ataque de fúria repentina ao ligar para sabe-se lá quem. E, mais curioso ainda, totalmente trajado de mulher, com o fio do telefone a lhe esgoelar a goela.


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