quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Fábulas: # O Hotel dos Suicidas

O Hotel dos Suicidas resolveu o seu problema de retorno de clientela - os hóspedes que lá se hospedavam nunca mais voltavam a hospedar-se - gradeando as janelas dos aposentos. Mas aí os hóspedes trocaram o pulo mortal pelo afogamento na hidromassagem. E quando o Hotel dos Suicidas reformou os banheiros eliminando as banheiras de hidromassagem, os hóspedes encontraram nos sacos plásticos destinados à lavanderia um excelente pretexto para satisfazer aquilo que procuravam. Eliminados também os sacos, houve quem enfiasse a cabeça dentro do frigobar e esperasse ali, em parceria com as latinhas de refrigerante de cola gaseificada, a contagem final das horas. Também o frigobar fora retirado dos aposentos do Hotel dos Suicidas. E quando os aposentos não passavam de um vazio com uma cama no meio - os travesseiros não existiam mais, e também por motivos óbvios -, o Hotel dos Suicidas mergulhou numa espetacular crise financeira, só encontrando saída quando o gerente de marketing, tarimbado nas estratégias de venda, resolveu não contrariar a tendência do mercado, equipando novamente os aposentos do Hotel dos Suicidas, mas dessa vez com uma variedade incrível de apetrechos de tortura. Hoje, quem escolhe hospedar-se no Hotel dos Suicidas tem a possibilidade de decidir entre a masmorra do último andar, o porão dos desesperados no subsolo, o calabouço com fosso de jacarés do Pantanal, ou, ainda, optar pelo quarto comum, que guarda nas gavetas da cabeceira da cama um repertório de pílulas mortais acondicionadas em potinhos grafados com uma caveira atravessada por dois ossos. Se o retorno de hóspedes continua sendo um problema impossível de ser sanado, o Hotel dos Suicidas, ao menos, entendeu a sua especial particularidade, vendendo aos hóspedes a ideia de que hospedar-se em seus aposentos pode ser uma experiência irrepetível, e, por isso mesmo, impossível de ser esquecida, ainda que não haja quem a registre (coisa que o gerente de marketing está tentando resolver nesse exato instante)

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