Ainda no meio
do primeiro movimento da famosa quinta sinfonia de Tchaikovsky uma velha
levantou-se da plateia com a ideia de ir ao banheiro. Mas como não podia se
deslocar sem o auxílio de seu andador – uma peça de metal que fazia um barulho
enorme toda vez em que era apoiada no chão -, a velha, então, tratou de
escolher o tempo forte do compasso da sinfonia para cumprir com o seu desejo,
atravessar a sala com o seu andador sem atrapalhar os músicos e os demais
espectadores, e, finalmente, chegar até o banheiro. E lá foi a velha. E como
foi andando decisiva, marcando esplendorosamente bem o tempo mais forte dos
compassos do primeiro movimento da famosa quinta sinfonia de Tchaikovsky, toda
a orquestra ganhou em intensidade, dispensando, inclusive, os gestos sonolentos
do maestro. Ocorre que na noite seguinte a mesma velha estava presente no mesmo
concerto, e ainda no primeiro movimento da famosa quinta sinfonia de
Tchaikovsky ela levantou-se com a ideia de ir ao banheiro. E lá foi a velha,
tão decidida quanto compenetrada em não falhar na marcação do tempo forte dos
compassos. E a orquestra tornou-se radiante. E já ninguém mais se importava com
o maestro, ele próprio admirado com a competência rítmica da velha, nessa
altura uma velha de ouvido absoluto. Na semana seguinte a orquestra voltou a
tocar, mas dessa vez um novo programa, todo ele dedicado aos compositores
modernos e dodecafônicos. Incrivelmente a velha estava lá, e ainda no primeiro
movimento dessa obra de marcações rítmicas complexas, a velha teve vontade de
ir ao banheiro. E a velha foi. E a orquestra, já acostumada com a velha e sua
habilidade em peças do repertório erudito tradicional, duvidou de rabo de olho
de que ela iria dar conta do novo desafio. E a velha marcou tão bem os tempos
dos compassos, martelando com o seu andador de metal os tempos mais esquisitos
onde mesmo os maestros mais experientes eram capazes de se embananar, que,
enfim, a velha foi finalmente contratada para fazer parte do conjunto
sinfônico. E o maestro, obviamente, demitido. Ocorre que a velha, como tudo o
que é velho, morreu um dia. Mas já nessa altura, outras velhas haviam sido
preparadas para substituir a velha original. E assim se fez, dando continuidade
a essa tradição hoje muito divulgada e aceita de se ter uma velha marcando o
ritmo das orquestras com um andador de metal no meio das salas de concerto.
A propósito...
o leão fugiu do circo!
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