domingo, 15 de fevereiro de 2015

A paradinha da bateria evoluiu de síncopa para uma semibreve, mas do tipo de semibreve longuíssima. A mulata, ainda assim, sustentou o rebolado por alguns eternos silenciosos segundos, e depois congelou. Todo o resto congelou também - baianas, mestres-sala e portas-bandeira, alegorias, plateia e foliões dentro e fora da avenida. E congelados permaneceram até que a neve começara a cair. E feito doces polvilhados por açúcar, cada estátua foi crescendo em uma camada de branco pelo cocuruto e até que só o nariz sobrasse para fora, e depois nem mais o nariz, talvez somente uma única pena de pavão remanescente da última fantasia do destaque que pairava altíssimo no derradeiro carro alegórico. Tudo coberto por um cobertor gigantesco de neve, abafado por uma outra melodia, dessa vez uma melodia branca e carregada de notas longas, nada percussionadas. Passaram-se mil anos, e as escavações descobriram ali os vestígios de uma antiga civilização, e ao que tudo indica bastante primitiva, e cujos habitantes, mumificados, comunicavam-se praticamente pelados, de posse de tinturas no corpo, e de um estranho sorriso paralisado na face...
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