domingo, 1 de março de 2015

Fábulas: # A Dupla de Nado Sincronizado...


A dupla de dançarinas aquáticas Dolores & Dóris, duas das mais destacadas nadadoras de nado sincronizado que a história haverá por justo mérito – e por ainda muito tempo - gazetear, festejar e aplaudir (as pioneiras Berenice & Blanche já haviam anunciado a aposentadoria das toucas, ainda que, era regra geral admitir, dessem muito o que fazer com seu submerso talento lírico), ambas, Dolores & Dóris, ganhadoras dos mais concorridos prêmios referentes ao conjunto de competições aquáticas onde o nado sincronizado representa, sem dúvida alguma, a cereja dos olhares, enfim, ambas, Dolores & Dóris, com seus cabelos longuíssimos presos em coques besuntados com pasta a prova d’água, cada qual espetada nos focinhos finos com um pregador de ouro reluzente a produzir faíscas de brilho e que tapavam as narinas das competidoras para que, uma vez de cabeça para baixo e embaixo d’água, fosse evitado o que seria uma tragédia de âmbito nacional, ou seja, o afogamento trágico de ambas as dançarinas aquáticas que mundo nenhum jamais viu melhores (havia quem dissesse que as pioneiras e já retiradas Berenice & Blanche eram do mesmo quilate das referidas Dolores & Dóris), enfim, depois daquela marcha triunfal até a beirada da piscina, ambas feito espelho refletido uma da outra – pernoca vai, pernoca vem: tchum, tcham, tchum -, e, finalmente, dentro d’água após um mergulho praticamente siamês, coube observar que nenhuma delas, Dolores e tampouco Dóris, decorridos longos minutos de expectativa, voltava à superfície para dar início ao tão esperado número, sumindo por debaixo d’água sem que tivéssemos qualquer notícia de que um dia, depois do estrondoso sucesso das pioneiras Berenice & Blanche nas piscinas do circuito mundial de competições aquáticas onde o nado sincronizado representa, sem dúvida alguma, a cereja dos olhares, essa nova e reluzente dupla festejadíssima de dançarinas aquáticas, Dolores & Dóris, existiu, quiçá estampou por justo mérito seu nome nos jornais para ser gazeteada, festejada, ou aplaudida, tanto hoje quanto amanhã e por horizontes ainda futuros. Pois o que se seguiu, em razão do sumiço repentino de Dolores & Dóris, foi um mergulho coletivo atrás de ambas as dançarinas aquáticas, primeiro o técnico artístico responsável pela coreografia do balé submarino, o Sr. Bolaños, que uma vez na água também nunca mais emergiu aos vapores da superfície, gesto repetido por toda a audiência que, enciumada pelo ato de coragem piedosa uns dos outros, cada qual em seu termo, atirou-se piscina adentro para o silêncio eterno das profundezas misteriosas, só restando para a continuidade da competição a bancada de jurados, que por não saber nadar, resistiu ao ato de bravura coletiva e permaneceu onde estava, em testemunho fiel ao epílogo funesto de tantos aqueles que, contaminados pelo alvoroço geral, meteram-se a sumir junto com a dupla de dançarinas aquáticas Dolores & Dóris, ambas postas no pódio da história como as herdeiras das pioneiras Berenice & Blanche...

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